1.9.16

Capítulo Sessenta




— Pronto? — Joe deu alguns tapinhas nas costas do irmão, que se olhava no espelho e reclamava.
— Mas que inferno! Não consigo parar de tremer! — Nick fechou os olhos e balançou os braços, então começou a dar pulinhos.
— Bem, primeiro, pare de pular. — Joe colocou as mãos nos ombros de Nick. — Não é um jogo de basquete. Você não está nas finais do campeonato estadual.
— Certo. — Nick parou de se mexer e assentiu com a cabeça algumas vezes.
— E pare de fazer que sim com a cabeça. Você está parecendo um maluco.
— Merda. — Nick se sentou em uma cadeira e apoiou a cabeça nas mãos. — Preciso dar o fora daqui antes que eu enlouqueça.
— Concordo. — Joe enfiou a mão no bolso da frente do casaco. — Mas, até lá, use isso.
Nick não olhou para ele.
— Joe, acho que as pílulas de Benadryl da vovó não são indicadas nessa situação.
— Não é uma pílula rosa. — Joe enfiou a pequena garrafa de bebida na cara de Nick. — É coragem líquida, meu amigo! Beba.
Nick abriu os olhos e pegou a garrafa de plástico.
— Hum, então é um remédio de Joseph Jonas? Gostei.
— Talvez seja apenas um remédio dos Jonas, apesar de mamãe costumar optar pelo vinho. — Joe deu de ombros. — De qualquer forma, não preciso levar todo o crédito.
Nick tirou a tampa e fez cara feia ao virar toda a garrafa de vodca barata, os 120 mililitros de uma só vez.
— O gosto disto é horrível.
— Roubei da vovó, então eu já imaginava. Nunca vi uma mulher gostar tanto de vodca barata. — Ele deu de ombros. — De qualquer forma, está quase na hora de ir até o altar. Que tal arranjar coragem?
Depois de alguns segundos, Nick respondeu:
— Pronto.
— Nossa, foi rápido!
— É, bem, foi só perceber que vou poder seduzir minha esposa em exatos 46 minutos. Talvez 44, se eu disser os votos rapidamente.
— Assim é que se fala! — Joe deu tapinhas nas costas dele. — Agora, vou sair para encontrar sua futura esposa. Parece que preciso ajudar certa garota a chegar até o altar.
— Se ela tropeçar, você ganha um olho roxo.
— Beleza! — gritou Joe, saindo do cômodo em busca de Selena.
Ele a encontrou parada na entrada da varanda dos fundos, esperando, enquanto uma música suave tocava ao fundo. Demi estava ao lado dela, as duas conversando em murmúrios urgentes. Até Joe pigarrear e indicar que estava lá. Selena se virou primeiro, com os olhos brilhantes de animação.
— Eu só, hã... — Demi apontou para algo atrás de Joe. — Vou ficar por ali até chegar a minha hora de andar até o altar.
Joe sentiu o perfume de Demi quando ela tentou passar direto por ele. O que não ia acontecer. Ele a agarrou pela cintura e a beijou na boca.
— Você não pode passar por mim sem dizer nem um “oi”.
Os lábios de Demi tocaram os dele outra vez.
— É assim que dizemos “oi”, agora?
— É. — Joe abriu os lábios dela com a língua. — Claro que é.
Interrompendo o beijo, Demi deu uma piscadela safada e foi embora. Joe ainda estava olhando para ela quando Selena falou:
— Nunca pensei que veria este dia.
— O quê? — Joe coçou a cabeça, nervoso, e se aproximou de Selena. — Que dia?
— Você sabe. — Ela cruzou os braços e indicou com a cabeça a parte do cômodo onde estavam Demi e as outras madrinhas. — O dia.
— Ainda não entendi.
Ela deu de ombros.
— Pode chamar de puberdade. Você cresceu e se apaixonou.
— Então, agora eu sou um homem? — Joe piscou.
— Parabéns! — Selena riu. — Ah, meu Deus! Aposto que você deve até ter cabelo no peito! — Joe fez cara feia. Sempre fora um metrossexual, e talvez levasse as coisas um pouco longe demais, ao fazer limpeza de pele uma vez por mês. Ele deu um tapa para afastar a mão de Selena, que tentava tocar seu peito. Peste!
— Está pronta? — perguntou, mudando de assunto.
— Acho que sim.
— Que bom. — Joe riu. — Prepare-se para ficar de boca aberta. Na verdade, prepare-se para chorar. Ouvi dizer que você e vovó tiveram uma boa conversa.
— Aquela mulher não consegue guardar segredo nem que sua vida dependa disso — resmungou Selena.
— Bem, vou deixar Demi alerta, só por precaução. — Joe esticou o braço e segurou a mão da amiga. — Selena, conheço você desde que era uma garotinha usando maria-chiquinha. Você era obcecada pela Barbie e me disse que eu devia ser seu Ken. Na verdade, tenho certeza de que fiz o papel de Ken mais vezes do que gostaria de admitir.
Selena deu uma risadinha e continuou a ouvir.
— Nós rimos juntos, choramos juntos, gritamos um com o outro, brigamos, nos odiamos... — Joe tentou controlar as emoções.
Droga. Não era só Selena que iria acabar chorando. Ele se sentia prestes a perder o controle.
— Eu parti seu coração e nunca o consertei. — Ele umedeceu os lábios e suspirou. — Nick consertou.
Selena pegou a mão de Joe e a apertou.
— Meu irmão o consertou — repetiu Joe, fechando os olhos por um breve momento. — Sel, eu aceitei seu coração, na faculdade. Aceitei, mas não fui cuidadoso. Fui descuidado, jovem, idiota, você decide. — Ele soltou a mão da amiga e enfiou a dele no bolso, para pegar um presente. — Então, aqui estou, devolvendo-lhe os pedaços, para que meu irmão possa ficar com tudo. Nick merece. Queria consertar o que eu quebrei. Queria desfazer o que deu errado, mas você sabe que isso é um tanto difícil de fazer, então aqui... — Ele ergueu a presilha de cabelo. — É um coração azul, de safira. A coisa azul que você vai usar também é a coisa nova. — Ele deu de ombros. — Eu sempre te amei, Sel. — Ele ajeitou a presilha no cabelo dela e beijou a amiga na testa. Selena deu um tapa no ombro dele.
— Pare de me fazer chorar!
— Foi mal! — Ele se afastou e ergueu as mãos.
— Ah, venha cá! — Selena o puxou para mais um abraço apertado. — Obrigada, Joe. Por tudo.
Ouviram música vinda do lado de fora da casa.
— Bem, eu ainda não terminei aqui. — Ele estendeu o braço no instante em que seu pai aparecia, dobrando o corredor.
— Está pronta, querida? — perguntou o pai de Joe, enxugando algumas lágrimas ao dar um beijo no rosto de Selena.
— Pronta. — Ela engoliu em seco e passou uma das mãos pelo braço de Joe e outra pelo do pai dele. — Vamos lá.
Demi se aproximou com o buquê da noiva. Joe deu uma piscadela antes de se virar para a porta. Selena tremia a seu lado.
— Mãe, pai, eu amo vocês — sussurrou Selena.
— Estou tão orgulhoso de você! — disse o pai de Joe, e deu para ver uma lágrima caindo por sua bochecha, antes de ele virar o rosto. — E sei que eles também estão.
Joe apertou mais o braço dela e assentiu para o pai, lutando com todas as forças para não se entregar às próprias emoções. Mas era difícil. Ainda mais quando a música começou. E, simples assim, as lembranças voltaram. A cerimônia era perto da casa da árvore. Selena voltou no tempo, e se viu, com 5 anos, correndo em volta da árvore, fugindo de Joe. A mãe dela apareceu, gritando:
— Selena, largue isso! Não se atreva a jogar lama nele!
Selena não deu ouvidos. E sua memória retrocedeu mais alguns anos, na mesma casa da árvore, com o mesmo garoto. Joe estava mais velho. Ele e o irmão discutiam, e Nick disse que tinha encontrado uma cobra e a segurou bem na frente do rosto dela. Sua mãe e Bets vieram correndo da casa, gritando para que Nick a matasse. E então estavam no ensino médio. Nick a observava da casa enquanto ela e Joe caminhavam perto do rio. Ela olhou para trás e revirou os olhos quando ele e o pai dela apareceram na varanda dos fundos da casa e começaram a colocar o restante do equipamento de pesca na caminhonete.
— Se cuidem! — ela gritou.
— Sempre! — respondeu o pai, e, como se tivesse acabado de se lembrar de alguma coisa, o pai corre até ela com os braços bem abertos. — Quase esqueci!
— O quê? — Ela deu uma risadinha, correndo na direção dele.
— O príncipe sempre precisa de um beijo da princesa antes de ir para a guerra!
— Você não vai para a guerra, vai pescar peixes.
— E caçar leões, tigres e ursos! — O pai arregalou os olhos enquanto dava mais beijos em sua bochecha.
— Pare! — Ela o empurrou para longe e sorriu. — Está bem. Aqui está o seu beijo, gentil cavalheiro. — Ela fez uma cortesia enquanto seu pai se curvava. — Usará minhas cores, querido príncipe?
— Mas é claro. — O pai puxou um laço rosa do cabelo dela e o segurou. — Vou guardá-lo para todo o sempre, milady!
Quando Selena voltou ao presente, percebeu que todas aquelas lembranças, todo aquele tempo que passara em Jonas Abbey, fora como se os pais estivessem ali com ela, conduzindo-a em direção ao futuro. Nick ergueu o olhar.
De repente, parecia que ela não conseguia andar rápido o suficiente. Seus olhos encontraram os dele enquanto ia até a frente do terraço. Nick estava tão bonito naquele terno preto! O cabelo estava um pouco bagunçado e o bronzeado fazia o sorriso parecer ainda mais devastador. Nick deu dois passos na direção dela. Wescott soltou seu braço, assim como Joe, e o noivo estendeu o braço para pegar sua mão. Quando a pegou, virou-a para cima e fez Selena abrir o punho cerrado. E então colocou um laço rosa na palma da mão dela. Os olhos de Nick ficaram cheios de lágrimas quando ele se inclinou e sussurrou:
— Vou guardá-lo para todo o sempre.
Ignorando a tradição, que dizia que não se devia tocar no marido até que quem tivesse levado a noiva ao altar falasse com o pastor, Selena jogou os braços em volta do pescoço de Nick e caiu no choro. Levou cinco minutos até que conseguisse se recuperar. E mesmo assim devia estar com uma aparência péssima. Mas não ligava. Nick pegou o laço de suas mãos e o colocou debaixo da presilha que Joe dera.
— Então. — O pastou sorriu. — Quem traz esta mulher para este homem?
Wescott não respondeu, nem Joe. Selena olhou para trás e sentiu alguém tocar seu braço. Vovó. Ela abriu um sorriso enorme para a noiva e envolveu as mãos de Selena e de Nick com sua mão macia.
— Os pais dela e eu.
— E eu — disse Joe, à sua direita.
— E minha esposa e eu — acrescentou Wescott.
Selena nunca se sentira mais amada e em casa. E pensar que estava no mesmo jardim em que brincara a vida toda! Com um sorriso um pouco choroso, abraçou todos e se juntou a Nick diante do gazebo. Uma brisa quente começou a soprar. Selena olhou para a água no instante em que o pastor gesticulava para que os convidados se sentassem. E talvez estivesse imaginando coisas, mas podia jurar que vira os pais ali no deque, de mãos dadas, olhando para ela e sorrindo.

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