Em duas horas, estaria casada. O coquetel tinha sido
ótimo, mas era hora. Selena escolhera um vestido branco cintilante, decotado na
frente e nas costas. Era um pouco ousado demais para o seu gosto, e foi
exatamente por isso que o tinha escolhido. Ele a fazia se sentir audaciosa e
linda. Além disso, ela dera um duro danado naquela série de exercícios idiotas
para o casamento, então merecia usar um vestido sexy.
Tiras finas com apliques de pedras envolviam seu
pescoço, descendo pelas costas até o vestido. Ele era acinturado, abrindo-se em
camadas macias de chiffon a partir do quadril. Sua parte favorita era a camada
de renda coberta de cristais, que ia dos seios até a barra do vestido. Ela se
virou e sorriu para o espelho. A cauda de 1 metro estava acomodada ao seu
redor. Selena suspirou. Estava perfeita. Se era assim, por que ainda estava
nervosa? Cerrou os punhos ao lado do vestido. Então se lembrou de que aquilo o
deixaria amassado, e soltou os dedos e começou a andar de um lado para outro em
frente ao espelho.
— Nervosa, querida? — perguntou uma voz feminina e
suave.
Selena olhou para a frente. Petunia estava parada à porta,
esfregando as mãos.
— Hã, um pouquinho — admitiu Selena. Petunia assentiu.
— Consigo entender. Afinal de contas, é natural se
preocupar com o que acontece na noite de núpcias.
— Ah... — Ela engoliu em seco. — Não é...
— Ah, eu sei. Conversa sobre esse assunto é algo muito
frágil. E não sou a melhor pessoa para conversar sobre isso. Eu provavelmente
levaria um taco de beisebol, ou algum outro objeto, para me defender, caso ele
começasse a ficar atrevido demais. Dê-lhe umas belas porradas, isso vai ensinar
a ele uma lição.
— Um taco? — Selena apertou os lábios.
— Acho que não será necessário e não estou nervosa com
a noite de núpcias.
— Ah. — Petunia calou a noiva com um gesto, rindo. —
Não tem problema estar nervosa, querida. Vou dizer uma coisa: basta chamar a
tia Petunia aqui, caso meu sobrinho fique muito... — Ela corou e desviou os
olhos. — Ah, você sabe. Se ele, se ele... — Ela apertou as mãos. — Se ele a
machucar, só diga que não.
— Acho que Nick não me machucaria — respondeu Selena,
com a voz calma, embora estivesse tentando não cair na gargalhada. — Afinal,
ele é um cavalheiro.
— Ah, ele é um cavalheiro na cama. — Petunia assentiu.
— E como é que você sabe disso?
Selena torceu para não parecer culpada. Petunia
arregalou os olhos. Então vovó entrou.
— Petunia! Você não devia estar aqui.
— Estava dando conselhos preciosos.
— Sobre como continuar virgem, sem dúvida. — Vovó
bufou. — Vá se arrumar para o casamento.
— Eu me recuso. — Petunia ergueu a cabeça. — Você já
sabe a minha opinião a respeito de cores fortes.
Vovó fechou os olhos por um momento e apertou o ponto
entre eles. Quando os abriu outra vez, até mesmo Selena recuou um passo.
— Você vai usar aquela droga de vestido e vai fazer
isso sorrindo. Agora, vá se arrumar, ou... que Deus me perdoe!... vou drogar
cada um dos seus gatos!
Petunia engasgou.
— Você não faria isso!
— Diga, como vai Garfield? Ora, ora, ele já está
ficando velho! Seria uma pena se caísse das escadas ou se acidentalmente
comesse algo que não devia.
Bufando e batendo os pés, Petunia saiu do quarto.
Vovó fechou a porta atrás dela e bateu as mãos como se
tirasse alguma poeira. Enquanto ajeitava o blazer dourado, olhou para a noiva.
— Minha querida, qual o problema?
As lágrimas que Selena estivera segurando começaram a
cair. Ela se jogou nos braços de vovó, dando soluços suaves.
— Ah, minha querida, não chore! Vovó está aqui, estou
aqui com você. É perfeitamente normal estar com medo. Bem, os homens podem ser
uns monstros terríveis! Fazem sons que nenhum ser humano devia fazer em público,
se acham mais engraçados do que tudo e não entendem o conceito de lavar a
louça...
Selena começou a soluçar.
— Ah, minha querida, mas são maravilhosos! Foram
feitos para nós, sabia? Foram feitos para serem fortes no que somos fracas,
capazes do que não somos, e para partilhar uma união tão mágica que você vai
até se esquecer de como era antes de colocar o anel no dedo. Querida — vovó a
fez se afastar e lhe entregou um lenço de papel —, o amor é mágico. E você,
minha linda, está tão apaixonada! Dá para ver em cada gesto, em cada suspiro
que você dá.
Selena limpou os olhos e controlou a respiração.
— Não é ele. — A noiva sacudiu a cabeça. — Nick é
maravilhoso. E é incrível. Não é ele. Sou eu.
Vovó estava quieta, dando tapinhas nas mãos de Selena.
— Eu o amo tanto. Só queria que...
— O quê? — perguntou a velha senhora.
— Eu queria — os lábios de Selena tremiam — que meu
pai estivesse aqui, que ele me levasse até o altar. Que minha mãe estivesse
sentada na primeira fileira, sorrindo. Não sei... Só queria que eles pudessem
me ver.
— Ah. — Vovó a puxou para um abraço. — Mas eles podem,
querida! Eles podem vê-la! Eu não disse que o amor é mágico? Bem, imagino que o
amor que você e Nick sentem um pelo outro tenha sido criado por Deus. E, se
Deus está olhando por vocês, como é que isso não teria chamado a atenção dos
seus pais? Tenho certeza de que eles estarão sentados na primeira fila, hoje à
noite. O amor brilha bem forte. É como uma estrela no céu: é impossível não
notar. É como o sol: é impossível não sentir. É como respirar, o que não se
pode deixar de fazer. Ah, minha querida! O menor dos seus problemas é desejar
que seus pais soubessem exatamente como será seu casamento, porque eles estão
bem aqui. — Vovó tocou o peito de Selena. — E também estão aqui. — Ela pegou
uma pequena caixa na bolsa e a colocou nas mãos da noiva. — Vá em frente, abra.
Tremendo, Selena abriu a caixa. Lá dentro, havia uma
longa corrente de prata com um pingente oval. Com um puxão leve, o pingente se
abriu e revelou uma foto dos pais de Selena.
— É a coisa velha para você usar no casamento —
sussurrou vovó. — Está na minha família há muito tempo. Era da minha mãe, e da
mãe dela, antes disso. — Vovó pegou o colar das mãos de Selena e abriu o fecho.
— Quando ficar com medo, lembre-se de que seus pais nunca estarão longe... —
Ela prendeu o colar no pescoço de Selena, e o pingente caiu bem entre seus
seios. — Eles estão no seu coração.
Soluçando, Selena jogou os braços ao redor do pescoço
de vovó e a abraçou com força. Nunca tinha esperado por algo assim. Era
perfeito, e, de repente, parecia que um peso tinha saído de seus ombros. Ela se
sentia viva outra vez, animada, pronta — e cansada de ser apenas Selena. Estava
pronta para ser Selena Jonas.
— Eu te amo, vovó.
— Eu também te amo, querida. — Vovó suspirou. — Agora,
vá retocar a maquiagem. Não queremos que pareça que você andou chorando.
Selena deu um beijo na bochecha da senhora e se
levantou.
— Acho que um batom rosa vai ficar legal.
— Esta é a minha garota. — Vovó abriu a bolsa e pegou
um batom. — Use-o com sabedoria. Me disseram que lábios cor-de-rosa também têm
poderes mágicos.
— Ah, é? Quem disse?
— Bem, seu avô, que Deus o tenha, amava rosa. — Vovó
se levantou e saiu do quarto.
— Que Deus a abençoe — comentou Selena, em voz alta. —
E a mantenha viva para sempre... Sei que a quer, Senhor, mas não pode levá-la
ainda.
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