29.1.16

Capítulo Quarenta




— Abra a porta, Demi. Não deve estar assim tão ruim... — Joe bateu na porta pela décima vez e esperou. Do outro lado, ela soltou um palavrão. — Demi? Estou esperando. Somos os anfitriões dessa Festa do Prazer.
— Não fale assim — ela pediu, do outro lado da porta.
— Quer que eu fale como? Reclamando, ela abriu.
— Não ria.
Rir? Ela estava maluca? Parecia uma versão mais gostosa da Britney Spears — de antes de ficar louca. O cabelo castanho-avermelhado comprido estava alisado, pendendo abaixo dos seios. Ela usava um chapéu de couro que combinava com o vestido curto de couro. Demi botou as mãos nos quadris, e Joe viu que ela usava luvas de renda.
— Entre no banheiro — grunhiu ele. Demi arregalou os olhos, recuando.
Joe fechou a porta com um chute, e sua boca encontrou a dela. Ele a pôs sentada na bancada, e Demi passou as pernas em volta da cintura dele.
— Nossa, você ficou muito gostosa! — Joe beijou o pescoço de Demi, que inclinou a cabeça para trás e suspirou enquanto apertava as costas dele.
— Está na hora! — gritou alguém, batendo à porta.
— Não está, não — retrucou Joe, sem tirar os lábios do pescoço de Demi.
— Ah, está sim. — A porta foi escancarada, revelando a atendente da loja. — Testando alguns produtos, é? As fantasias são sempre um sucesso.
Joe se afastou de Demi e praguejou, limpando a boca com as costas da mão.
— Agora é a sua vez. — A mulher entregou uma roupa a Joe. — Todos estão prontos, só falta você.
— Está bem. — Ele pegou a roupa. — Obrigado por lembrar.
Ela ficou lá, esperando Demi sair, para só então fechar a porta. A roupa de Demi tinha saído direto de suas fantasias mais loucas, então a dele não podia ser tão ruim, certo?
— Você viu Joe? — perguntou Jace, sentando-se ao lado de Demi. — Tenho algumas perguntas sobre o brinde que ele irá fazer. Acho que também quero fazer alguma coisa amanhã. Isto é, se ele deixar de ser orgulhoso e falar comigo. Demi respondeu com um sorriso educado.
— Não o vi ainda, mas tenho certeza de que ele não vai ligar.
— Ele não vale a pena, sabe? — comentou Jace, tão baixo que apenas Demi podia ouvi-lo.
— Desculpe, não entendi. — Demi tomou um gole de vinho e sorriu enquanto alguns amigos entravam na enorme sala de estar.
— Joe. — Jace se sentou ao lado dela, no sofá. — Ele é um conquistador. É bom no que faz, mas não gosta de compromissos. Você já devia saber. — O homem suspirou. — As coisas com ele... os relacionamentos com esse tipo de homem... sempre vão ser difíceis de administrar. E, no fim, tem 50 por cento de chance de que você acabe com o coração partido.
— Obrigada pela preocupação.
— É egoísmo da minha parte, puro egoísmo. Você é linda. Só a conheço há alguns dias, mas adoraria levá-la para sair.
— Hã, bem, eu e Joe, nós estamos...
— Senhoras e senhores, o padrinho se ofereceu para apresentar uma dança para a gente!
Se ofereceu o caramba, pensou Demi. Deve ter sido coagido — ou drogado.
As luzes diminuíram e um holofote foi aceso no saguão. A música “Save a Horse (Ride a Cowboy)”, da dupla country norte-americana Big & Rich, começou a tocar no volume máximo. Joe apareceu sem camisa, com uma calça de couro de caubói e cuecas justas por baixo. E ainda não tinha acabado: ele também usava uma gravata de renda e um chapéu preto de caubói. E... Nossa! Ele parecia uma delícia! Era óbvio que a atendente tinha passado alguma coisa no corpo dele, porque o peito brilhava — devia ser alguma espécie de óleo.
Demi ficou boquiaberta quando seus olhos se encontraram. Com passos seguros, ele caminhou até ela. Enquanto Joe cruzava o aposento, os convidados foram colocando dólares na calça dele. Parando na frente de Demi, Joe se abaixou e montou em seu colo. Meu Deus! Meu Deus! Ela olhou ao redor, em busca de ajuda. Ele ia mesmo fazer alguma espécie de lap dance caubói? Como no filme Magic Mike? Na frente de todos os convidados do casamento? E da vovó? Ele começou a dançar em torno dela. Disse um desculpe com os lábios quando deu uma cotovelada na cara de Jace, durante um giro.
Channing Tatum, aquele ator e modelo, não chegava nem aos pés de Joe. Ela ia acabar enfartando. Na hora do refrão, todos cantaram juntos. Save a horse, ride a cowboy. Joe cumprimentou Demi com o chapéu e saiu de seu colo. Se dependesse dela, ele passaria a noite toda lá. Ele andou pela sala igual a uma pantera. Os cabelos castanho-claros caíam sobre o rosto, um pouco ondulados. Demi não sabia se era suor ou o óleo que fazia o cabelo dele ondular. Mas não tinha imaginado que, fossem ondas naturais ou só o calor, ela seria capaz de jogar vovó na frente de um ônibus apenas para poder deslizar as mãos por aquele cabelo. Algumas outras garotas gritaram o nome dele. Ele desviou a atenção para o grupo e foi dançar no meio delas.
— Como eu disse... — Jace pigarreou ao lado dela. — Uma vez conquistador barato, sempre conquistador barato. Acha mesmo que ele vai abrir mão desse estilo de vida? — Por você? Essa parte não foi dita em voz alta, mas Demi recebeu as palavras como um soco no peito. A música parou e todos aplaudiram. Demi olhou para o colo e brincou com a borda da taça.
— Agora deem as boas-vindas ao noivo e à noiva, e a uma convidada especial!
Nick, parecendo muito infeliz, entrou na sala. Ele era enorme, só músculos e força bruta. Usava uma fantasia de homem das cavernas de couro. Coitado! Não teve muita sorte com a escolha de fantasias. Selena estava usando uma saia curta de couro branca e uma blusa de renda também branca. Parecia pronta para a festa. Atrás deles, vinha vovó. Em uma fantasia sexy de gato, que não teria sido tão chocante se ela não tivesse pintado bigodes no rosto. Mas se havia alguém que conseguia ficar bem naquelas roupas, esse alguém era vovó.
— Vamos começar a festa! — gritou ela. Começou a tocar música eletrônica. Selena bebericava seu vinho.
As pessoas conversavam e riam pela sala, mas Demi se sentia completamente só. Como se alguém lhe tivesse tirado toda a vontade de seguir em frente. Não tinha conseguido esconder o celular no vestido, então ela se tornara, oficialmente, a garota sozinha que estava encarando a mesa na festa da qual ela deveria ser a anfitriã, com Joe. Jace se inclinou à sua esquerda.
— Quer que eu busque mais vinho?
Ela faria qualquer coisa para se livrar dele e daquela sua atitude condescendente.
— Sim, obrigada.
Demi lhe entregou a taça e ficou observando Joe, que continuava a conversar e a flertar com algumas amigas em comum que ela não encontrava havia algum tempo. Eram as outras madrinhas. Tecnicamente, ela deveria fazer as apresentações e agir de forma madura, mas só queria se lamentar.
— Demi! — chamou Joe, do outro lado da sala, gesticulando para que ela se aproximasse. Tentando não fazer cara feia, ela se levantou do sofá e sentiu as bochechas corarem quando as garotas a olharam de cima a baixo. Avaliando a competição. Quando se aproximou, Joe passou o braço pelos ombros dela, mantendo-a presa. — Essa é Demi. Acho que algumas de vocês estudaram juntas.
— Sério? — perguntou Demi, que não reconhecera nenhum rosto.
— Sim. — Joe apertou seu ombro. — Sério? Não se lembra de Britney? — Argh. Uma garota alta e loira com boca larga e olhos castanhos estendeu a mão.
— É tão bom rever você, Demi! — Nota mental: Britney era legal e tinha um sorriso bastante gentil.
— E Lillian. — Joe apontou para uma asiática com mechas azuis no cabelo. Demi nunca a vira antes, mas apertou a mão da mulher mesmo assim.
— Acho que você se lembra de mim — disse a garota seguinte, em um tom um pouco venenoso. Era da altura de Demi, mas com mais curvas, mais ou menos como uma das irmãs da família Kardashian. — Sou Amy...
— Stevens. — Demi engasgou. Pelo visto a punição divina havia terminado com Joe, e agora era a vez dela.
Maravilha! Quais eram as chances de algo como aquilo acontecer? A mesma garota com quem foram ao acampamento? E por que Selena a tinha convidado para ser madrinha? Aquilo estava mesmo acontecendo? Para ser sincera, Selena nunca soubera por que Demi odiava Amy. Demi sentia muita vergonha de sua antiga obsessão por Joe, então nunca quis explicar. Amy mantivera contato com Selena, era o que ela sabia. Tecnicamente, Demi era a culpada. Estivera tão focada no trabalho, que, quando Selena enviara os detalhes sobre as madrinhas, praticamente ignorara a amiga e concordara sem nem ao menos ler. Argh!
Estava arrependida de não ter lido aqueles e-mails com atenção. Como tinha deixado passar o nome de Amy?
— É muito bom ver você de novo, Demi. — O sorriso de Amy não chegou aos olhos, e, depois de um silêncio desconfortável, ela tocou de leve o braço de Joe. — Conte como está a sua vida, vou adorar saber das novidades. Não nos vemos há séculos. — E, simples assim, Demi foi deixada de lado.
Joe olhou para ela, com um sorriso pateticamente gentil, o que só piorou as coisas. Se ele se comportava como um babaca, ela ao menos podia ficar irritada com ele. Mas se ele agia de forma legal ou parecia estar com pena dela era uma droga. De verdade.
— Aqui está seu vinho. — Jace surgiu ao seu lado. — Olá, cirurgia plástica! — Ele sacudiu a cabeça e olhou para Amy e Joe. Demi reclamou baixo e pegou a taça das mãos de Jace. — Tudo bem? — perguntou ele.
Demi suspirou e olhou para Jace. Por que não podia gostar dele? Talvez, se fechasse os olhos, pudesse imaginar que estava tocando e beijando Joe, não Jace. Será que todos os homens seriam ruins, em comparação com Joe? Será que passaria a vida inteira comparando qualquer um com ele, para início de conversa?
— Atenção! Peço a atenção de todos! Vão para os seus lugares! — A atendente se dirigiu ao meio da sala e começou a tirar alguns objetos de várias caixas e a colocá-los em uma mesa coberta com um veludo preto.
Demi não era puritana, mas ficou chocada. Sem saber o que fazer, olhou para Joe, que ainda estava imerso na conversa. Selena ria, Nick olhava para a noiva, desejoso, e vovó... Ah, que ótimo! Vovó estava arrastando Petunia para ver o show. Seria uma briga de proporções épicas. Demi se encolheu quando as luzes se apagaram. A mesa começou a brilhar. Droga.
— Bem. — A atendente bateu palmas. — Eu me chamo Lola. Vou ser sua consultora do prazer nesta noite.
Jace engasgou ao seu lado. Demi deu tapas em suas costas e ele soltou um “obrigado”.
— Para dar um clima mais íntimo à festa, coloquei vários produtos espalhados pelos quartos. E trouxe também lingeries maravilhosas da nossa linha romântica. Perfeita para a noiva!
— Eba! — gritou Nick. Risadas nervosas se espalharam pelo ambiente.
— Agora... — Lola passou a apresentar os itens, começando por um dos cantos da mesa. Meia hora de apresentação depois, Demi ficou grata pelo fato de as luzes estarem apagadas. Devia estar com o rosto vermelho como tomate.
Depois que o último produto foi exibido, Jace sussurrou ao seu lado: — Será que sou menos homem por admitir que não sabia de metade do que ela estava falando?
— Não, você é apenas uma pessoa normal — respondeu Demi.
— Que bom, porque comecei a ficar preocupado já no primeiro quarto da apresentação.
Rindo, Demi deu tapinhas no braço de Jace bem na hora em que o olhar de Joe — que tinha ido para o outro lado da sala — pousava nela. Ele sacudiu a cabeça, apertou os lábios em uma linha fina e deixou a sala.
— Alguma dúvida? — indagou Lola.
As luzes se acenderam. Vovó se balançava no meio do aposento, segurando uma taça de vinho. Petunia parecia ter perdido as forças. Ou isso ou estava morta. Não dava para saber. Ela estava de olhos fechados, jogada no sofá com a boca aberta.
— Você a matou. — Demi apontou para Petunia.
— Eu a droguei — corrigiu vovó. — Petunia não parava de reclamar da festa, então misturei Benadryl ao suco dela.
— Vovó! — gritou Demi. — Isso é perigoso!
Vovó tomou um gole longo de vinho.
— Já saí com um farmacêutico.
— O que não faz de você uma farmacêutica.
— Ah, isso é um detalhe! — Apertando o ponto entre os olhos, Demi decidiu não entrar na briga. — Tudo bem, querida? — Vovó franziu a testa, preocupada.
— Dor de cabeça. — Ou dor no coração, era tudo parecido.
— Tem aspirina no meu quarto, no final do corredor. Pegue uma lá. Estão no criado-mudo, ao lado do Benadryl. Mas lembre que tem de pegar a pílula branca, não a rosa. A rosa a deixaria doidona, depois de todo esse vinho.
Assentindo, Demi atravessou o corredor para pegar o remédio. O quarto de vovó ficava no térreo, porque ela odiava subir escadas. Selena contara que, no ano anterior, vovó quisera ocupar um quarto de cima, porque assistira ao filme Up — Altas Aventuras e pensara que seria legal ter uma daquelas cadeiras que se prendem às escadas para descer. Ideia vetada.
Suspirando, ela abriu a porta e deu de cara com Joe e Amy agarrados. Os braços de Amy estavam apertados ao redor do pescoço de Joe, e ela usava apenas a lingerie barata da festa. Joe a empurrou e então viu Demi.
— Pode sair? — disparou Amy, para Demi. — Estamos um pouco ocupados.
— Demi, espere! — gritou Joe. Mas ela, mesmo com os saltos plataforma, já tinha saído correndo pelo corredor, e porta afora.

*****

Desculpa a demora, daqui a pouco tem outro pra compensar..
Obrigada por não terem me abandonado. Vocês são incríveis!
Como vou viajar na quinta e voltar depois de uma semana, vou tentar postar vários capítulos ao longo da semana. Amo vocês, beijos.

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