17.10.15

Capítulo Trinta e Quatro e Trinta e Cinco



Capítulo 34

Furiosa, Selena saiu atrás de Joe, mas não o encontrou em lugar algum. Maldito fosse, por escolher justamente aquele fim de semana, na semana do casamento dela, para encontrar a consciência! O momento não podia ser pior! Mas a expressão nos olhos dele quando olhou para Demi e depois para o restante da família...
Aquilo a tinha deixado enjoada.
Sim, ele era um babaca, mas qualquer um que não fosse cego podia ver que estava tentando, exceto pela pequena recaída da noite anterior. Mas ele lhe dissera que não tinha acontecido nada. Homens que tinham aquela expressão no olhar não estavam mentindo... Ele estava vulnerável demais, sensível demais para fazer algo do tipo.
— Selena... — chamou Nick, na entrada na casa.
Ela não estava suficientemente escondida pelas paredes do corredor. Os passos de Nick soaram mais próximos, até que ele parou logo atrás dela.
— Que foi?
— Desculpe.
— Isso não basta.
— Que droga! — Nick a segurou por trás e a virou, prendendo-a contra a parede. — Eu pedi desculpas.
— Por que está se desculpando, exatamente? Por ter sido um babaca com seu irmão? Por dizer a ele que ficasse longe da única garota de quem ele gosta de verdade? Ou por falar mal dele o tempo todo na frente dos seus pais, e até de Jace, hein? Pode escolher. — Ela tentou se soltar, mas Nick era grande demais. Um músculo tremia em sua mandíbula, enquanto ele se aproximava. Por que ele tinha de ser tão atraente? Seria bem mais fácil brigar se ele fosse feio, ou se a gagueira da infância decidisse reaparecer agora.
— Escute. — Ele a segurou no queixo e a fez olhar para cima, então sorriu. — Não posso evitar.
— Esse é o pior pedido de desculpas de todos os tempos.
— Não terminei. — Os olhos de Nick brilharam quando ele beijou seus lábios com delicadeza e se afastou. — Ainda tenho problemas com ele. E você deve entender por quê, Selena. Quer dizer, ele dormiu com você e depois a abandonou, na faculdade. Ano passado ele estava considerando casar com você e manter uma amante. E ainda pensando que essa fosse de fato uma boa ideia! Ele a usou para conseguir uma promoção no trabalho e, alguns meses depois, você quer que eu comece a confiar nele? Ele ainda não nos provou nada. Confiança precisa ser conquistada, e ele ainda não aprendeu nada. Nunca precisou.
Selena suspirou e mordeu o lábio antes de responder.
— Entendo o que você está dizendo, mas preciso que confie em mim. Conheço aquela expressão no rosto dele. Conheço Joe. Ele é seu irmão, eu sei, mas era meu melhor amigo quando criança. Acho que ele está cansado de ser a ovelha negra, mas não vai melhorar se sentir que nunca terá uma chance. Talvez a gente devesse deixar as coisas fluírem, o que acha?
Nick soltou um palavrão.
— Então, o que você quer? Que eu vá lá e dê um abraço nele, ou coisa do tipo? Sinto muito, mas deixar as coisas fluírem significa não apenas que estaremos apostando em Joe, mas também que, se perdermos, o que tem noventa por cento de chance de acontecer, aliás, vovó vai cantar bem no nosso casamento. E por uma hora inteira, enquanto as pessoas vão beber até a morte.
Ah, Nick! Tão bruto e protetor! Era por isso que ela estava se casando com ele. Era o homem mais atraente que já conhecera, e seria todo dela. Com um sorriso provocante, ela se inclinou e roçou os lábios nos dele.
— Quero ver você tentar. Por favor? Por mim?
— Tentar? — A voz dele estava rouca. — Tentar o quê?
— Tentar não ser um babaca e dar uma chance a ele.
Nick gemeu, com os lábios colados aos dela, empurrou Selena com mais força contra a parede e alinhou seus corpos, erguendo-a nos braços e trazendo-a para bem junto de si.
— Está bem, vou tentar. Mas, se vou tentar a sorte com ele, é melhor você fazer o mesmo com vovó.
— O quê? — Os lábios dele se afastaram dos dela e desceram pelo pescoço, deixando uma trilha de fogo.
— Vovó. Tente despistá-la hoje à noite — disse ele.
— Por quê?
Aquilo era novo? A língua dele provocava sensações tão boas ao passar pela base de sua garganta que ela apertou a blusa de Nick e gemeu.
— Porque quero você. — Usando os dentes, ele puxou o decote do vestido de Selena e começou a provocá-la, descendo por seu corpo. — E posso morrer se eu não a tiver.
— Não se comporte como um menino.
Ela arfava.
— He-hem — pigarreou uma voz, vinda da sala.
Soltando um palavrão, Nick pôs Selena de novo no chão, devagar, e a empurrou para a frente de seu corpo. Covarde. Vovó estava lá, de braços cruzados, encarando-os com o olhar fuzilante.
— Atenção às regras, vocês dois. Parecem crianças.
— Eu não ia querer que minhas crianças se comportassem assim... — começou Nick, atrás de Selena. Ele tinha que dizer alguma coisa.
Vovó estreitou os olhos enquanto avançava o restante do caminho até os dois, pisando forte. Como uma boa noiva, assim que vovó parou diante dela, Selena lhe deu passagem. Então vovó conseguiu pegar Nick pela orelha e arrastá-lo pelo corredor.
— Muito obrigado, Selena! — gritou o noivo enquanto vovó o carregava para fora da casa.

Capítulo 35

A brisa fria da noite soprava sobre o rio Columbia enquanto Joe tomava um gole de cerveja. A vista da casa da árvore sempre fora a favorita da família. Eles a construíram pensando no rio: ela era bastante alta, chegando a permitir que a vista alcançasse além das árvores, mas não alta em excesso, a ponto de arriscar uma fatalidade, caso alguma das crianças — Joe, Nick e Selena — caísse de lá.
Demi já tinha ido lá uma vez, talvez duas.
Ela estava com sete anos quando Joe a viu pela primeira vez. Demi foi direto até ele e o socou no nariz.
Quando o sangramento parou, duas horas depois, ele perguntou por que ela fizera aquilo.
A resposta?
Ele estava olhando para ela de um jeito estranho.
Irritado, Joe gritou com Demi e disse que não a olharia tanto se ela não fosse tão feia. Ela chorou, e foi assim que começou o relacionamento conturbado dos dois nos primeiros anos da escola.
No ensino fundamental, as coisas mudaram. Demi tinha começado a virar uma garota bem bonita, mas uma garota bem bonita que não queria nada com ele.
Até o sexto ano. Ele tinha escrito um bilhete durante a aula, perguntando se ela queria passear com ele no intervalo.
Ficaram inseparáveis depois daquilo. E tudo por causa de um Twinkie, aquele bolinho amarelo, que, como reza a lenda, resistiria a um ataque nuclear, se isso viesse a acontecer. Sério, seria a comida que os alienígenas encontrariam em bom estado depois de um milhão de anos. Sem mofo. Amarelo como sempre.
Ele sempre odiou Twinkies, mas, naquele dia, decidira pegar alguns. Nunca disse a ela que os odiava. Só fingiu que os guardaria para depois e ficou observando enquanto ela comia o dela. Ela era tão bonita! O cabelo era bem mais escuro naquela época. Mais preto que castanho.
Os olhos faziam um contraste tão bonito com o cabelo escuro que ele teve de encará-la outra vez. Dessa vez, ela não o socou. Apenas corou e desviou o olhar.
Naquele momento, soube que tinha uma tremenda queda por ela. Sentiu até vergonha de contar aquilo a Selena, que, na época, era a melhor amiga dele. Nem cogitava em contar a Nick, que odiava todo o mundo.
E Joe sempre sentia que era comparado ao irmão, quando criança. Então guardou aquilo para si.
Assim como a coleção de Twinkies.
Todos na casa da árvore.
A lembrança o fez rir, e ele ficou se perguntando se alguém, em algum momento, encontrara os bolinhos e ficara tentando entender por que ele os estocara como se fosse um esquilo faminto.
Refletindo sobre o passado, não conseguia lembrar o que tinha acontecido entre os dois — Demi e ele. No ensino médio, ela simplesmente parara de falar com ele.
Ele até havia comprado uma caixa de Twinkies e colocado no armário dela, com um bilhete.
Sabia que ela havia recebido o presente, porque a vira sorrir ao ler o bilhete e abrir a caixa. Mas aquilo tinha sido no primeiro dia de aula. E no ensino médio ele vivera seu ápice. Era difícil conversar com Demi, que estava sempre indisponível. E o restante das garotas era ridiculamente disponível, então ele se aproveitara daquilo.
Depois da escola, Demi virara apenas uma conhecida, e depois um caso de uma noite só. E agora... agora ela era apenas... uma grande confusão.
Uma confusão na qual ele queria se meter. Na qual ele queria dar um jeito.
Só que, de alguma forma, tinha sido ele a causa de tudo. A coisa mais inteligente a fazer — e também a mais certa — seria perguntar o que havia acontecido. Mas o passado era passado, e ele precisava seguir em frente.
Quando fora que sua vida tinha se tornado isto de que ele não sentia nenhum orgulho? Ele recebera todas as coisas de bandeja, mas, de alguma forma, conseguira estragar tudo. O próprio irmão não o queria como padrinho!
Como ele não tinha percebido isso?
Não tinha percebido nada — e eram muitas coisas.
Não reparara que o pai parecia vinte anos mais velho que na última vez que o vira. E que a mãe fingia que tudo estava bem com vovó, embora ele tivesse visto que, no banheiro, antes do jantar, a avó quase tossira o pulmão inteiro.
Sentiu uma dor aguda bem no peito. O que ele estava fazendo com a própria vida?
Com o estômago revirado, pegou a segunda cerveja — duas, em quinze minutos. Uma gaivota pousou no telhado da casa na árvore e o encarou. Ele ergueu a garrafa, em cumprimento, e fez uma careta.
Este era o futuro dele.
Cervejas, gaivotas e uma casa na árvore.
A ave fez um barulho que se assemelhou bastante a uma provocação.
Ótimo, também estava ficando louco!
Viu uma silhueta que se afastava da casa e caminhava em sua direção. Ignorando-a, terminou a cerveja e abriu outra.
O som de alguém subindo as escadas da casa da árvore fez seu estômago se revirar ainda mais. Se fosse Nick ou Jace, não se responsabilizaria pelos próprios atos. Não mesmo.
O alçapão se abriu e Demi o atravessou, com o lindo vestido preto e tudo.
— Joe!
Ele se preparou para o poder que aquela beleza exercia sobre ele, os efeitos daquele vestido, os sentimentos que aqueles malditos olhos cristalinos provocavam.
— Oi? — Nossa! Ele precisava mesmo melhorar a atuação! Sua voz soou tão tensa que foi ridículo.
— Você está bem? — Demi se içou para dentro da casa da árvore e se sentou a seu lado.
— É claro. — Joe deu de ombros. — Só precisava sair de lá. — Finja que está tudo bem. Sem complicações. Ele deu de ombros outra vez. Talvez estivesse fazendo aquele movimento mais do que deveria. Seu ombro chegou a se preparar para uma terceira vez. Ok, estava na hora de esquecer a atuação, ele só precisava de mais álcool. Tomou um gole longo e desviou os olhos, como um adolescente.
— Você não parece bem — comentou Demi, baixinho.
Ele a encarou por um momento, antes de umedecer os lábios e apontar para o rio Columbia.
— Sabia que, na parte mais funda, o rio pode chegar a mais de 360 metros de profundidade?
— Isso é... interess...
— E que... — Joe pigarreou — ...os índios norte-americanos acreditavam que foi uma briga entre dois irmãos que causou a erupção do monte Santa Helena? Eles eram apaixonados pela mesma garota, mas, como ela não conseguiu escolher um dos dois, ficaram irritados. Começaram a brigar, e vilas foram destruídas. O pai, zangado com os filhos, que não conseguiram colocar a família em primeiro lugar, antes do amor de uma garota, transformou-os em montanhas.
Demi sorriu e olhou para o rio.
— Quais montanhas?
— O primeiro filho virou o monte Hood, com a cabeça orgulhosa erguida para os céus. — Joe apontou para a montanha. Dava para ver de onde estavam, quando o céu estava limpo, e por sorte ainda não estava muito escuro. — O outro foi transformado no monte Adams, com o rosto virado para onde a menina que amava caiu.
Demi ficou em silêncio enquanto olhava para a outra montanha.
— E a garota? O que aconteceu com ela?
— Ela explodiu.
Diante da respiração surpresa de Demi, Joe riu, sentindo-se melhor, ali, do que se sentira ao longo de todo o dia.
— Não, é sério. Conta a lenda que ela foi transformada no monte Santa Helena.
— Então... — Demi jogou o corpo para trás, apoiando-se nas mãos, e inclinou a cabeça. — Você está me dizendo que os irmãos queriam ficar com ela, ela não conseguiu se decidir por nenhum dos dois e, no fim, todos sofreram e ela morreu?
É, não era a melhor história para contar a Demi naquele momento, mas ele estava desesperado, tentando impedir que ela perguntasse o óbvio — qual era o problema? — e então ele acabasse despejando seus sentimentos nela.
— Acho que sei por que você gosta dessa história.
Surpreso, Joe deu uma risada breve.
— Como assim? É só uma história.
— Não é, não. — Demi apontou para o rio. — Toda essa coisa sobre a profundidade do rio foi a sua forma de evitar expressar seus sentimentos. A história, no entanto, foi sua maneira de botá-los para fora.
— O quê? — Desde quando ela era psicóloga?
Demi pegou uma cerveja.
— Você teria lutado pela garota? Pela garota que você ama? Ou teria desistido?
Joe ficou quieto. Ele olhou para as duas montanhas ao longe.
— Eu teria feito a coisa mais fácil.
— E qual seria?
Ele deu de ombros. Nossa, estava fazendo muito isso!
— Teria ido embora.
— Por quê?
— Porque é isso que eu faço, Demi. Eu vou embora. Escolho o caminho mais fácil. É isso que você quer ouvir? Quer que eu diga que sou diferente? Que sou o bom moço? O tipo de cara que luta pelo que quer? Bem, eu não luto por porcaria nenhuma. Não preciso. Nunca precisei.
Demi bebeu a cerveja em silêncio, mas suas mãos tremiam quando levou a bebida aos lábios. Joe suspirou e desviou o olhar.
— Não sou esse tipo de cara.
— Quem disse? — Havia súplica na voz dela.
Joe balançou a cabeça e olhou para a casa. O som de risos podia ser ouvido no quintal.
— Todo o mundo diz.
— Até mesmo vovó?
— Certo. Tenho uma fã. — Joe disse isso e soltou um palavrão.
— Duas. — De repente, ele viu a cerveja de Demi bem na sua frente. Ela bateu a garrafa na dele e sorriu. — Você tem duas fãs.
Joe riu.
— E quem diz é a garota que ameaçou minha vida várias vezes na última semana.
— Ei! — Demi não se afastou. Em vez disso, ela se inclinou na direção dele. — Parceiros na dança do acasalamento precisam apoiar um ao outro.
— Está bem. E aparentemente preciso de toda a ajuda possível, já que minha autoestima é muito baixa… culpa das camisinhas PP.
— Quem sou eu para julgar? Estou aqui enchendo a cara... e todos sabem que tenho problema com bebida.
Eles riram. Foi uma risada fácil, até que o vento mudou de direção e Joe sentiu o perfume floral que ela usava. Ele ficou tenso e ela ergueu a cabeça e se aproximou dele.
— Demi? — chamou a voz de Jace. — Demi, está aí em cima? Não consigo ver você! Está na hora da sobremesa!
— Eu sei. — Ela não tirou os olhos dos de Joe.
— Que pena — sussurrou Joe, segurando seu queixo entre as mãos. — Estava pronto para comer a sobremesa mais cedo.
— A maioria das pessoas precisa lutar para ter esse privilégio.
Ele engoliu em seco e encarou os lábios carnudos de Demi.
— Prometo que vou.
— Não seja uma montanha.
— O quê? — Ele se afastou.
Demi se levantou.
— Não desista, não seja uma montanha.
— Então, o que eu devo ser?
Ela não respondeu. Apenas caminhou até a escada e começou a descê-la devagar. Mas, um pouco antes de sumir de vista, sussurrou:
— Você mesmo, Joe. Seja você mesmo.

*****

Um capítulo duplo pra vocês. O que estão achando?
Se tiver comentários posto outro hoje a noite.. Beijos!  

8 comentários:

  1. Posta mais por favor gih!
    #maratona
    Protesto quero reevidicar mais capítulos.

    Grata! ��������

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  2. Aaaaaaaaaaaaaah essa peste desse Jace tinha que aparecer logo agora �� �� �� �� Ia rolar beijoooooooooo ������. Gi sua linda que amo muito posta maaaaaaais ficou perfeito esses capítulos ��������������

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  3. Aaaaaaaaaaaaaah essa peste desse Jace tinha que aparecer logo agora �� �� �� �� Ia rolar beijoooooooooo ������. Gi sua linda que amo muito posta maaaaaaais ficou perfeito esses capítulos ��������������

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  4. Eu estou simplesmente amando essa história e odiando esse estraga prazeres do Jace..... continua logo por favor!!!!

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  5. aii ta maravilhosoo !!!! CONTINUAAA LOGO PFVVR S2S2S2S2

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  6. ps : eu tenho um blog tambem :3, se vc quiser passar lá e me dizer o que achou: http://jemimorethanjustadream.blogspot.com.br

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