7.2.15

Capítulo Dez


ESSA FOTO

Sexta-feira, 28 de setembro de 2012
23h50

É meu último dia com 17 anos. Dianna está fora da cidade, trabalhando no mercado de pulgas mais uma vez. Ela tentou cancelar a viagem porque se sentia mal por estar longe no meu aniversário, mas não deixei que fizesse isso. Em vez disso, comemoramos meu aniversário ontem à noite. Ela me deu bons presentes, mas nada se compara ao e-reader. Nunca fiquei tão entusiasmada em passar um fim de semana sozinha.
Não assei tantos doces como da última vez em que Dianna viajou. Não porque não estava com vontade de comê-los, mas porque tenho quase certeza de que meu vício por leitura atingiu um nível completamente novo. É quase meia-noite, e meus olhos não querem ficar abertos, mas já li quase dois livros inteiros e preciso terminar esse de qualquer jeito. Pego no sono, acordo de repente e tento ler mais um parágrafo. Nick tem um ótimo gosto para literatura, e fico um pouco chateada por ter demorado um mês inteiro para me falar sobre esse. Sei que não sou muito fã de finais felizes, mas se os dois personagens desse livro não tiverem um, vou entrar no e-reader e trancá-los dentro da maldita garagem para sempre.
Minhas pálpebras se fecham devagar e continuo tentando forçá-las a ficarem abertas, mas as palavras estão começando a se embaralhar na tela e nada mais faz sentido. Por fim, desligo o e-reader, apago a luz e penso em como meu último dia com 17 anos devia ter sido tão melhor do que foi.
Meus olhos se abrem rapidamente, mas não me mexo. Ainda está escuro e continuo na mesma posição de antes, então sei que acabei de pegar no sono. Respiro de forma mais silenciosa e tento escutar o mesmo barulho que me acordou — o barulho da minha janela sendo aberta.
Escuto as cortinas roçando no suporte e alguém entrando. Sei que devia gritar, sair correndo para a porta, ou procurar algum objeto que possa usar como arma. Em vez disso, continuo paralisada porque, quem quer que seja, não está tentando de forma alguma entrar no meu quarto de maneira silenciosa, então sou obrigada a presumir que é Jonas. Mas mesmo assim, meu coração está disparado e todos os músculos do meu corpo se retesam quando o colchão se move quando ele se deita. Quanto mais perto chega, mais certeza tenho de que é ele, pois nenhuma outra pessoa é capaz de fazer meu corpo reagir como está reagindo agora. Aperto os olhos e levo as mãos até o rosto ao sentir as cobertas serem erguidas. Estou totalmente apavorada. Estou apavorada porque não sei qual Jonas está deitando em minha cama neste momento.
O braço dele desliza por baixo do meu travesseiro, e seu outro braço me envolve o corpo após encontrar minhas mãos. Ele me puxa para seu peito e entrelaça os dedos nos meus, enterrando em seguida a cabeça no meu pescoço. Estou bem ciente de que não estou vestindo nada além de uma regata e uma calcinha, mas tenho certeza de que ele não veio por causa disso. Ainda não sei por que ele está aqui, pois apesar de ele não falar nada, sabe que estou acordada. Sei que ele sabe que estou acordada porque, no instante em que seus braços me cercaram, arfei. Ele me abraça o mais forte que pode e, de vez em quando, encosta os lábios no meu cabelo e me beija.
Estou com raiva dele por vir aqui, mas fico com mais raiva ainda de mim mesma por querê-lo aqui. Não importa o quanto queira gritar com ele e obrigá-lo a ir embora; percebo que sempre quero que me aperte um pouco mais. Quero que tranque os braços ao meu redor e jogue a chave fora, pois aqui é seu lugar e tenho medo de que me solte de novo.
Odeio o fato de existirem tantos lados dele que não compreendo, e nem sei se quero continuar tentando entendê-los. Há partes dele que amo, partes que odeio, partes que me apavoram e partes que me impressionam. Mas há uma parte dele que só me decepciona... e com certeza essa é a mais difícil de aceitar.
Ficamos deitados sem dizer nada pelo que parece ser cerca de meia hora, mas não tenho certeza. Tudo que sei é que ele não me soltou nem um pouco nem tentou se explicar. Mas o que há de novo nisso? Nunca vou conseguir nada dele a não ser que comece a fazer minhas perguntas. Mas, nesse momento, não estou a fim de fazer nenhuma.
Ele solta meus dedos e leva a mão até o topo da minha cabeça. Pressiona os lábios no meu cabelo e dobra o braço que está debaixo do travesseiro. Jonas fica me ninando, enterrando o rosto no meu cabelo. Seus braços começam a tremer, e ele está me apertando com tanta intensidade e desespero que é de partir o coração. Meu peito arqueja, minhas bochechas ardem, e a única coisa que impede as lágrimas de escorrerem pelo meu rosto é meus olhos estarem fechados com tanta firmeza que não as deixam escapar.
Não aguento mais o silêncio e, se eu não disser tudo o que considero totalmente necessário, posso até gritar. Sei que minha voz vai soar carregada de mágoa e tristeza, e que mal vou conseguir falar enquanto tento conter as lágrimas, mas respiro fundo de qualquer maneira e digo a coisa mais honesta de que sou capaz:
— Estou com muita raiva de você.
Como se fosse possível, ele consegue me apertar ainda mais forte e leva a boca até meu ouvido, beijando-o.
— Eu sei, Demi — sussurra ele. Sua mão desliza por debaixo da minha camiseta, e ele pressiona a palma aberta na minha barriga, puxando-me para mais perto. — Eu sei.
É incrível o que o som de uma voz que estamos loucos para ouvir faz com nosso coração. Ele acabou de dizer cinco palavras, mas, no tempo que levou para falar essas cinco palavras, meu coração foi despedaçado, moído e retornou ao meu peito, como se devesse saber como voltar a bater outra vez.
Deslizo os dedos pela mão que está firmemente apoiada em mim e a aperto, sem nem saber o que isso significa, mas cada parte do meu corpo quer tocá-lo, apertá-lo e confirmar que ele está mesmo aqui. Preciso saber que ele está aqui e que isso não é apenas mais um sonho vívido.
Ele encosta a boca em meu ombro e separa os lábios, beijando-me com delicadeza. A sensação de sua língua em minha pele faz com que um calor se espalhe imediatamente por mim, da barriga até as bochechas.
— Eu sei — sussurra ele outra vez, explorando sem pressa minha clavícula e meu pescoço com os lábios.
Fico de olhos fechados porque a aflição em sua voz e a ternura em seu toque estão fazendo minha cabeça rodar. Estendo o braço e passo a mão em seu cabelo, pressionando-o mais ainda no meu pescoço. O hálito quente em minha pele fica cada vez mais intenso, assim como os beijos. Nossa respiração acelera à medida que ele percorre cada centímetro do meu pescoço duas vezes.
Ele se apoia no braço e me deita de costas, em seguida leva a mão até meu rosto e me afasta o cabelo dos olhos. Vê-lo tão de perto faz todos os sentimentos que já nutri por esse garoto voltarem... os bons e os ruins. Não entendo como pode me fazer passar pelo que passei quando a mágoa em seus olhos é tão perceptível. Não sei se é porque não sei interpretá-lo nem um pouco ou se eu o interpreto bem demais, mas ao olhá-lo agora sei que está sentindo o mesmo que eu... o que torna suas atitudes ainda mais confusas.
— Sei que está com raiva de mim — diz ele, me olhando. Seus olhos e palavras estão cheios de remorso, mas mesmo assim não pede desculpas. — Preciso que fique com raiva de mim, Demi. Mas acho que preciso ainda mais que continue me querendo aqui.
Sinto um peso no peito ao ouvir essas palavras e preciso de um esforço extremo para continuar enchendo meus pulmões de ar. Balanço a cabeça de leve, porque sou capaz de concordar plenamente com ele. Estou furiosa, mas quero muito mais que ele fique aqui do que quero que vá embora. Jonas encosta a testa na minha, e seguramos o rosto um do outro, um olhando desesperado nos olhos do outro. Não sei se ele está prestes a me beijar. Não sei nem se está prestes a se levantar e ir embora. A única coisa de que tenho certeza é que depois desse momento, nunca mais serei a mesma. Sei, pela maneira como sua existência é um ímã para meu coração, que se ele me magoar de novo algum dia, não vou ficar nada bem. Vou ficar acabada.
Nossos peitos sobem e descem como se fossem um só enquanto o silêncio e a tensão aumentam. Sinto em todas as partes do corpo a firmeza com que ele segura meu rosto, é quase como se estivesse me agarrando de dentro para fora. A intensidade do momento traz lágrimas aos meus olhos, e estou completamente surpresa com minhas emoções inesperadas.
— Estou mesmo com raiva de você, Jonas — digo com uma voz trêmula, mas segura. — Mas, não importa o quanto fiquei irritada, nunca deixei de desejar que estivesse ao meu lado, nem por um segundo.
De alguma maneira, ele sorri e franze o rosto no mesmo momento que eu.
— Caramba, Demi. — O rosto dele passa um alívio incrível agora. — Senti tanto sua falta. — Imediatamente, ele abaixa a boca e pressiona os lábios nos meus. Já estava mais que na hora de sentirmos isso; não sobrou paciência em nenhum de nós. Reajo na mesma hora, separando os lábios e deixando ele me preencher com o gosto doce de menta e refrigerante. Ele é tudo o que sempre imaginei e mais um pouco. Delicado, firme, cuidadoso, egoísta. Nesse único beijo, sinto mais suas emoções do que em todas as palavras que ele já disse. Nossos lábios finalmente estão se entrelaçando pela primeira vez, pela vigésima ou pela milionésima vez. Não importa que vez é — qualquer que seja, é algo perfeito demais. É incrível, excelente e quase valeu a pena passar por tudo que passamos para chegar a esse momento.
Nossos lábios se movem de forma apaixonada enquanto tentamos nos aproximar mais, esperando encontrar entre nossos corpos a ligação perfeita que acabamos de encontrar com nossas bocas. Ele mexe a boca contra a minha delicadamente, mas com firmeza, e eu o acompanho em cada movimento. Solto vários gemidos, arquejo várias vezes e, em cada uma dessas vezes, ele inspira com a boca.
Nós nos beijamos sem parar em todas as posições possíveis, tentando nos conter até onde nosso desejo permitia. Nos beijamos até eu não conseguir mais sentir meus lábios e até ficar tão cansada e exaurida que nem sei se ainda estamos nos beijando quando ele pressiona sua cabeça na minha.
E é exatamente assim que pegamos no sono — com as testas grudadas e os corpos envoltos, em silêncio. Pois nada mais foi dito entre nós. Nem um pedido de desculpas.

Sábado, 29 de setembro de 2012
08h40

Eu me viro para investigar a cama, meio que pensando que os acontecimentos da noite passada foram um sonho. Jonas não está aqui, mas em seu lugar há uma caixinha embrulhada. Eu me encosto na cabeceira e pego o presente. Fico encarando-o por um bom tempo antes de finalmente abrir a tampa e conferir o conteúdo. É algo que parece um cartão de crédito, então o pego e leio.
Ele comprou para mim um cartão de telefone com minutos para mensagens. Muitos minutos.
Sorrio, pois sei a importância desse cartão. É por causa da mensagem de Miley. Ele está planejando roubar a menina dela, além de usar muitos de seus minutos. O presente me faz sorrir e na mesma hora estendo o braço até a mesinha de cabeceira para pegar o celular. Recebi uma mensagem de Jonas.

Está com fome?

A mensagem é breve e simples, mas é sua maneira de me avisar que ainda está aqui. Em algum canto. Será que está preparando um café da manhã para mim? Vou ao banheiro antes de seguir para a cozinha e escovo os dentes. Tiro a regata, coloco um vestido de alcinha e prendo meu cabelo num rabo de cavalo. Olho meu reflexo no espelho e vejo uma menina desesperada para perdoar um garoto. Mas para isso ele vai ter de implorar muito primeiro.
Ao abrir a porta do quarto, sinto o cheiro de bacon e escuto o barulho da gordura chiando na frigideira. Vou até o corredor, dou a volta e paro. Fico encarando-o por um tempo. Ele está de costas para mim, mexendo no fogão, cantarolando sozinho. Está descalço, vestindo uma calça jeans e uma camiseta branca. Mais uma vez, já está se sentindo em casa, e não sei muito bem o que acho disso.
— Saí cedo hoje de manhã — diz ele, ainda de costas para mim —, porque estava com medo de que sua mãe aparecesse e achasse que estou tentando engravidar você. Então, quando fui correr, passei pela sua casa outra vez e percebi que o carro dela nem estava na garagem e lembrei que você disse que ela tira esses fins de semana de venda no início do mês. Então decidi comprar comida porque queria fazer um café da manhã para você. Também quase comprei coisas para o almoço e jantar, mas achei que talvez fosse melhor se a gente pensasse em uma refeição de cada vez. — Ele se vira para mim e me olha lentamente dos pés à cabeça. — Feliz aniversário. Gostei muito desse vestido. Comprei leite de verdade, quer?
Vou até a bancada e fixo os olhos nele, tentando processar a pletora de palavras que acabou de sair da sua boca. Pego uma cadeira e me sento. Ele me serve um pouco de leite, apesar de eu não ter dito que queria, e desliza o copo para mim com um sorriso enorme no rosto. Antes que eu tome um gole, se aproxima e segura meu queixo.
— Preciso dar um beijo em você. Sua boca estava tão, mas tão perfeita ontem que fiquei com medo, achando que tudo tinha sido um sonho. — Ele leva a boca até a minha, e, assim que a língua dele acaricia a minha, percebo que isso vai ser um problema.
Os lábios, a língua e suas mãos são tão incrivelmente perfeitos que nunca vou ser capaz de ficar com raiva de Jonas enquanto ele for capaz de usá-los contra mim dessa maneira. Agarro a sua camisa e pressiono minha boca na dele com mais força ainda. Ele geme e cerra os punhos no meu cabelo, depois me solta de forma abrupta e se afasta.
— Não — diz ele, sorrindo. — Não foi um sonho.
Ele volta para o fogão, desliga as bocas e transfere o bacon para um prato que já tem torrada e ovos. Ele o leva até a bancada e começa a encher o prato na minha frente com comida. Jonas se senta e começa a comer. Fica sorrindo o tempo inteiro, e, de repente, percebo uma coisa.
Eu sei. Sei qual é seu problema. Sei por que ele fica feliz, irritado, temperamental e todo inconstante, e finalmente tudo faz todo o sentido.
— Podemos brincar de Questionário do Jantar, apesar de ser café da manhã? — pergunta ele.
Tomo um gole do leite e faço que sim com a cabeça.
— Só se eu puder fazer a primeira pergunta.
Ele apoia o garfo no prato e sorri.
— Estava pensando justamente em deixá-la fazer todas as perguntas.
— Só preciso saber a resposta de uma.
Ele suspira, encosta-se na cadeira e olha para as próprias mãos. Pela maneira como está evitando meu olhar, percebo que já sabe que eu sei. Ele reage como quem tem culpa. Eu me inclino para a frente na cadeira e o fulmino com o olhar.
— Há quanto tempo usa drogas, Jonas?
Ele lança um olhar para mim, com uma expressão estoica. Fica me encarando por um tempo, e continuo firme, querendo que saiba que só vou parar quando ele contar a verdade. Jonas aperta os lábios, formando uma linha fina, e volta a olhar para as mãos. Por um segundo, fico achando que está se preparando para sair correndo pela porta só para evitar falar do assunto, mas então vejo algo em seu rosto que não estava esperando encontrar de maneira alguma. Uma covinha.
Está fazendo uma careta, tentando manter a expressão séria, mas os cantos de sua boca cedem e o sorriso vira uma gargalhada.
Ele está gargalhando, gargalhando muito, o que me deixa bastante furiosa.
— Drogas? — pergunta ele durante o ataque de risos. — Acha que estou usando drogas? — Continua rindo até perceber que não estou achando nenhuma graça. Após um tempo ele para, inspira fundo, estende o braço por cima da mesa e segura minha mão. — Não uso drogas, Demi. Juro. Não sei de onde tirou isso, mas juro que não.
— Então o que diabos há de errado com você?
Sua expressão fica séria com a pergunta, e ele solta minha mão.
— Dá para ser um pouco menos vaga? — Ele encosta-se na cadeira e cruza os braços.
Dou de ombros.
— Claro. O que aconteceu entre nós e por que está agindo como se nada tivesse acontecido?
Seu cotovelo está apoiado na mesa, e ele baixa o olhar para o braço. Lentamente, percorre cada letra da tatuagem com os dedos, pensativo. Sei que o silêncio não é considerado um som, mas, nesse momento, o silêncio entre nós é o som mais alto do mundo. Ele tira o braço da mesa e olha para mim.
— Não queria desapontá-la, Demi. Desapontei todas as pessoas que me amaram na vida e, depois daquele dia no almoço, soube que também a tinha desapontado. Então... fui embora antes que pudesse começar a me amar. Senão qualquer esforço que fizesse para tentar não desapontá-la seria inútil.
As palavras estão cheias de desculpa, arrependimento e tristeza, mas ainda assim ele não é capaz de se desculpar. Ele exagerou, e o ciúme falou mais alto, mas se simplesmente tivesse dito duas palavras, isso teria nos poupado desse mês inteiro de sofrimento emocional. Estou balançando a cabeça, porque não consigo entender. Não entendo por que ele não foi capaz de dizer me desculpe.
— Por que você não conseguiu dizer, Jonas? Por que não foi capaz de pedir desculpas?
Ele se inclina para a frente por cima da mesa e segura minha mão, olhando-me bem nos olhos.
— Não vou pedir desculpas... porque não quero que me perdoe.
A tristeza em seus olhos deve estar espelhando a minha, e não quero que ele a veja. Não quero que me veja triste, então fecho os olhos. Ele solta minha mão, e eu o escuto dar a volta na mesa até seus braços me envolverem e ele me levantar. Ele me põe em cima da bancada para nossos olhos ficarem no mesmo nível, afasta o cabelo do meu rosto e me faz abrir os olhos outra vez. Suas sobrancelhas estão unidas, e o sofrimento em seu rosto é franco, real e de partir o coração.
— Linda, fiz merda. Vacilei mais de uma vez, sei disso. Mas acredite em mim, o que aconteceu naquele dia no almoço não foi ciúme, raiva nem nada que deva assustar você. Queria poder contar o que aconteceu, mas não posso. Um dia vou lhe contar, mas agora não posso e preciso que aceite isso. Por favor. Não estou pedindo desculpas porque não quero que esqueça o que aconteceu, e você nunca deve me perdoar por aquilo. Nunca. Nunca arranje desculpas para o que faço, Demi.
Inclina-se e me dá um beijo breve, depois se afasta e continua falando:
— Disse a mim mesmo que devia ficar longe de você, que devia deixá-la com raiva de mim, pois tenho muitos problemas e ainda não estou pronto para compartilhá-los. E me esforcei ao máximo para ficar afastado, mas não consigo. Não tenho força suficiente para continuar negando seja lá o que existe entre nós. E ontem, no refeitório, quando você estava abraçando Nick e rindo com ele? Foi tão bom vê-la feliz, Demi. Mas queria tanto que fosse eu que estivesse fazendo você rir daquela maneira. Fiquei arrasado por achar que estava pensando que não me importava conosco, ou que aquele fim de semana com você não foi o melhor da minha vida. Porque eu me importo sim e aquele foi mesmo o melhor fim de semana de todos. Porra, foi o melhor fim de semana na história de todos os finais de semana.
Meu coração está batendo loucamente, quase tão rápido quanto as palavras que saem de sua boca. Ele solta meu rosto e passa as mãos no meu cabelo, abaixando-as até minha nuca. Ele as mantém lá, acalma-se respirando fundo e prossegue:
— Isso está me matando, Demi — diz ele, com a voz bem mais calma e baixa. — Está me matando porque não quero passar mais nenhum dia sem que não saiba o que sinto por você. E não estou pronto para dizer que estou apaixonado por você, pois não estou. Ainda não. Mas seja lá o que for isso que estou sentindo... é bem mais que gostar. É muito mais. E nas últimas semanas venho tentando entender esse sentimento. Estava tentando entender porque não existe palavra alguma capaz de descrevê-lo. Quero que saiba exatamente o que sinto, mas não existe nenhuma maldita palavra no dicionário inteiro que descreva esse ponto entre gostar e amar, mas eu preciso dessa palavra. Preciso dela porque preciso que você me ouça dizê-la.
Ele puxa meu rosto para perto de si e me beija. São beijos rápidos, mais selinhos, só que ele me beija inúmeras vezes, afastando-se após cada beijo, esperando minha reação.
— Diga alguma coisa — implora ele.
Estou olhando fixo em seus olhos apavorados e pela primeira vez desde que nos conhecemos... acho que realmente o entendo. Todo ele. Ele não reage dessa forma porque tem cinco personalidades diferentes. Reage assim porque só existe um lado de Joseph Jonas.
O lado apaixonado.
Ele é apaixonado pela vida, pelo amor, por suas palavras, por Less. E não vou ficar fora dessa lista de jeito algum. A intensidade que ele transmite não é irritante... é linda. Passei tanto tempo tentando encontrar maneiras de me sentir apática toda vez que podia, mas ao ver o entusiasmo que há por trás de seus olhos agora... fico com vontade de sentir todas as coisas possíveis da vida. As boas, as ruins, as bonitas, as feias, o prazer, a dor. Eu quero isso. Quero começar a sentir a vida da mesma maneira que ele. E meu primeiro passo nessa direção vai ser com esse garoto desesperado na minha frente, que está abrindo o coração, em busca da palavra perfeita, querendo de todo jeito me ajudar a voltar a sentir alguma coisa.
A gamar.
E, de repente, a palavra surge na minha cabeça como se estivesse lá o tempo inteiro, guardada entre o gostar e o amar no dicionário.
— Gamar.
O desespero em seus olhos se ameniza um pouco, e ele solta uma risada breve e confusa.
— O quê? — Ele balança a cabeça, tentando entender minha resposta.
— Gamar. Se misturarmos as letras de gostar e amar, temos gamar. Você pode usar essa palavra.
Ele ri novamente, mas dessa vez é uma risada de alívio. Põe os braços ao meu redor e me beija com um alívio gigantesco.
— Eu gamo você, Demi — diz ele encostando em meus lábios. — Gamo tanto você.

Sábado, 29 de setembro de 2012
09h20

Não tenho ideia de como ele fez isso, mas eu o perdoei completamente, passei a ficar encantada por ele e agora não consigo parar de beijá-lo, e tudo isso aconteceu em quinze minutos. Ele com certeza sabe usar bem as palavras. Estou começando a não me incomodar com o fato de ele demorar tanto tempo para pensar nelas. Ele se afasta da minha boca e sorri, passando as mãos ao redor da minha cintura.
— Então, o que quer fazer no seu aniversário? — pergunta ele, tirando-me do balcão. Ele me dá mais um selinho e vai até a sala onde estão sua carteira e chaves.
— Não precisamos fazer nada. Não precisa me entreter só porque é meu aniversário.
Ele põe as chaves no bolso da calça e olha para mim. Sua boca forma um sorriso malicioso e ele não para de me encarar.
— O que foi? — pergunto. — Parece culpado.
Ele ri e dá de ombros.
— Só estava pensando em todas as maneiras que poderia entreter você se a gente ficasse por aqui hoje. E é exatamente por isso que temos que sair daqui.
E é exatamente por isso que quero ficar aqui. — Podemos ir ver minha mãe — sugiro.
— Sua mãe? — Ele olha para mim com cautela.
— É. Ela tem uma barraca de ervas no mercado de pulgas. É onde trabalha em alguns finais de semana. Nunca a acompanho porque ela passa ali umas 14 horas e eu ficaria entediada. Mas é um dos maiores mercados de pulga do mundo e eu sempre quis dar uma olhada. Fica a apenas uma hora e meia daqui. Lá tem bolo de funil — acrescento, tentando tornar a sugestão mais interessante.
Jonas vem até mim e põe os braços ao meu redor.
— Se quer ir ao mercado de pulgas, então é para lá que vamos. Vou só passar em casa para trocar de roupa e fazer algo que preciso fazer. Posso vir buscá-la daqui a uma hora?
Concordo com a cabeça. Sei que é apenas um mercado de pulgas, mas estou animada. Não sei o que Dianna vai achar de eu aparecer de surpresa com Jonas. Não contei nada a ela sobre ele, então me sinto meio mal por surpreendê-la assim. Mas é culpa dela. Se não tivesse banido a tecnologia, eu poderia ligar para avisá-la.
Jonas me dá mais um selinho e vai até a porta
— Ei — digo, quando ele está prestes a sair. Ele se vira e olha para mim. — É meu aniversário e os últimos dois beijos que me deu foram bem ridículos. Se espera que eu passe o dia com você, sugiro que comece a me beijar como um namorado beija a...
A palavra escapa da minha boca, e imediatamente interrompo a frase. Ainda nem discutimos definições de nada e, por termos acabado de fazer as pazes na última meia hora, meu uso casual da palavra namorado se torna algo que o coitado do Matty teria feito comigo.
— Quero dizer... — gaguejo, e depois acabo desistindo e calo a boca. Não dá para me recuperar depois dessa.
Ele está virado para mim, ainda parado perto da porta. Não está sorrindo. Em vez disso, me olha com aquela expressão outra vez, com os olhos fixos nos meus, sem falar. Ele inclina a cabeça para mim e ergue as sobrancelhas demonstrando curiosidade.
— Acabou de se referir a mim como seu namorado?
Ele não está sorrindo por eu ter acabado de me referir a ele como meu namorado, e, ao perceber isso, estremeço. Nossa, isso parece tão infantil.
— Não — respondo com teimosia, cruzando os braços. — Apenas garotas bregas de 14 anos fazem isso.
Ele dá alguns passos na minha direção sem alterar a expressão no rosto. Para a meio metro de mim e imita minha postura.
— Que pena. Porque quando achei que você tinha se referido a mim como seu namorado, fiquei morrendo de vontade de dar o maior beijão em você. — Ele estreita os olhos, e há um jeito brincalhão em seu olhar que ameniza na mesma hora o frio na minha barriga. Jonas se vira e segue para a porta. — Vejo você daqui a uma hora. — Então abre a porta e se vira antes de sair, passando devagar por ela, provocando-me com seu sorriso brincalhão e suas covinhas lambíveis.
Suspiro e reviro os olhos.
Ele para e encosta-se orgulhosamente no batente.
— Acho bom você dar um beijo de despedida na sua namorada — digo, sentindo-me tão brega quanto o que acabei de falar.
Seu rosto é tomado pela vitória, e ele volta para a sala. Leva a mão até minha lombar e me puxa para perto de si. É nosso primeiro beijo sem nada perto da gente, e amo como ele está me protegendo com o braço apoiado em minhas costas. Os dedos alisam minha bochecha e chegam ao meu cabelo, e ele leva os lábios para perto dos meus. No entanto, não está encarando minha boca. Está olhando bem nos meus olhos, e os seus estão cheios de alguma coisa que não sei identificar. Não é luxúria desta vez; está mais para um olhar de gratidão.
Continua me encarando sem fechar o espaço que há entre nossas bocas. Não está me provocando nem tentando fazer com que o beije primeiro. Está apenas me olhando com gratidão e afeto, o que faz meu coração derreter feito manteiga. Minhas mãos estão nos ombros dele, então bem devagar as levo até seu pescoço e seu cabelo, curtindo o que quer que seja esse momento silencioso acontecendo entre nós. O peito dele sobe e desce, desafiando o ritmo do meu, e seus olhos começam a observar meu rosto, analisando todas as feições. A maneira como me olha deixa todo o meu corpo mais fraco, e me sinto grata por saber que seu braço continua na minha cintura.
Ele abaixa a testa até tocar a minha e solta um longo suspiro, olhando para mim com uma expressão que logo se transforma em algo que parece sofrimento. Isso me faz deslizar a mão até seu rosto, e o acaricio com os dedos, querendo que seja lá o que estiver por trás desses olhos desapareça.
— Demi — diz ele, concentrando-se em mim atentamente. Ele fala isso como se depois fosse declarar algo profundo, mas meu nome acaba sendo a única coisa que articula.
Sem pressa, aproxima a boca da minha, e nossos lábios se encontram. Ele respira fundo enquanto pressiona os lábios fechados nos meus, inspirando-me para dentro de si. Jonas se afasta e olha outra vez para meus olhos por mais vários segundos, alisando minha bochecha. Nunca fui tão saboreada assim, é algo absolutamente lindo.
Ele abaixa a cabeça de novo e apoia os lábios nos meus, deixando meu lábio superior entre os dele. Ele me beija com o máximo de delicadeza possível, tratando minha boca como se ela pudesse se quebrar. Abro os lábios e permito que deixe o beijo mais intenso, o que ele faz, mas mesmo assim continua sendo delicado. É um beijo cheio de afeto, suave, e ele fica com a mão na minha nuca e a outra no meu quadril enquanto sente e provoca devagar todas as partes da minha boca. O beijo é exatamente como ele — analisado e sem pressa alguma.
Depois que minha mente sucumbiu ao fato de eu estar toda cercada por ele, seus lábios param, e ele se afasta aos poucos. Meus olhos pestanejam e solto um suspiro que talvez tenha saído junto com as palavras:
— Meu Deus.
Ver minha reação ofegante o faz abrir um sorriso convencido.
— Esse foi nosso primeiro beijo oficial como um casal.
Fico esperando o pânico surgir, mas ele não vem.
— Casal — repito, baixinho.
— Isso aí. — Ele ainda está com a mão na minha lombar e continua me apertando, enquanto observo seus olhos focados em mim. — E não se preocupe
— acrescenta ele. — Eu mesmo aviso a Zac. Se eu o vir tentando encostar em você daquele jeito, vai ter outra conversinha com meu punho.
Sua mão deixa minhas costas e vai até minha bochecha.
— Agora vou mesmo embora. Vejo você daqui a uma hora. Gamo você. — Ele me dá um breve selinho nos lábios, afasta-se e segue em direção à porta.
— Jonas? — digo assim que inspiro o suficiente para conseguir falar. — Como assim outra conversinha? Você e Zac já brigaram antes?
Jonas fica inexpressivo, apertando os lábios, e faz que sim com a cabeça de forma bem sutil.
— Já lhe disse. Ele não é boa pessoa. — A porta se fecha quando ele sai e me deixa com mais perguntas ainda. Mas o que há de novo nisso?
Decido não tomar banho para poder ligar para Miley. Tenho muitas coisas para contar. Corro até meu quarto e saio pela janela, deslizando em seguida pela dela, e entro em seu quarto. Pego o telefone ao lado da cama e meu celular para ver a mensagem que ela enviou do número internacional. Quando começo a discar, recebo uma mensagem de Jonas.

Não estou com a menor vontade de passar o dia com você. Acho que não vai ser nada divertido. E também esse seu vestido fica horroroso em você, mas em hipótese alguma deve trocar de roupa.

Sorrio. Droga, realmente gamo esse caso perdido.
Disco o número de Miley e deito em sua cama. Ela responde meio grogue no terceiro toque.
— Oi — digo. — Estava dormindo?
Consigo escutá-la bocejando.
— Claro que não. Mas você precisa começar a levar em consideração o fuso horário.
Eu rio.
— Miley? Está de tarde aí. Mesmo se eu levasse em consideração o fuso, isso não ia fazer diferença para você.
— Tive uma manhã difícil — diz ela na defensiva.
— Sinto falta da sua cara. O que aconteceu?
— Não muita coisa.
— Está mentindo. Parece irritantemente feliz. Aposto que você e Jonas já se resolveram em relação ao que aconteceu naquele dia no colégio, não é?
— Pois é. E você é a primeira a saber que eu, Demetria Devonne Lovato, sou agora uma mulher comprometida.
Ela solta um gemido.
— Não entendo por que alguém se submeteria a esse tipo de sofrimento. Mas fico feliz por você.
— Obri... — Estava prestes a dizer obrigada, mas minhas palavras foram interrompidas por um:
— Meu Deus! — disse Miley bem alto.
— O que foi?
— Eu me esqueci. É seu aniversário, caramba, e eu me esqueci! Feliz aniversário, Demi, e puta merda, sou a pior melhor amiga do mundo.
— Tudo bem. — Eu rio. — Fico até feliz que tenha esquecido. Você sabe que odeio presentes, surpresas e tudo o que tem a ver com aniversários.
— Ah, espere. Acabei de lembrar o quanto sou incrivelmente legal. Dê uma olhada atrás de sua cômoda.
Reviro os olhos.
— Era de se imaginar.
— E diga para seu novo namorado comprar os minutos dele, porra.
— Pode deixar. Tenho de ir, sua mãe vai surtar quando chegar a conta telefônica.
— Pois é, não é... Ela devia ser mais conectada à Terra como sua mãe.
Acho graça.
— Amo você, Miley. Cuide-se, OK?
— Também amo você. E, Demi?
— Oi?
— Você parece feliz. Fico feliz por você estar feliz.
Sorrio, e a ligação chega ao fim. Volto para meu quarto e, por mais que odeie presentes, sou humana e curiosa por natureza. Vou logo até minha cômoda e olho atrás dela. No chão há uma caixa embrulhada, então me abaixo e a pego. Vou até a cama, me sento e abro a tampa. É uma caixa cheia de Snickers.
Caramba, como eu amo Miley.

*****

Desculpe pela demora. Amo vcs, bjs

12 comentários:

  1. Esse capítulo valeu cada minuto de espera ta perfeito e a parte do beijo eu n esperava por essa foi tao fofo e lindo e a parte do gamar foi perfeito .
    Resumindo esse capítulo foi perfeito do começo ao fim .
    Posta logo Bjs

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  2. Estou achando o máximo o "gamo vc" deles kkkkkk capítulo perfeito..... continua logo.....

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  3. Eu amei o capítulo
    Eu amei o beijo
    Eu amo as mensagens do Joe
    Eu amei a ligação da Demi Miley
    Eu amei o "gamo você"
    Eu amei tudo
    Posta logo
    Beijos e eu amo você meu anjo

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Incrível *-* Amei tudo , e esse "gamo vooc" <3 Posta Logo! :) Beijos...

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  6. Ta tão perfeito <3 <3
    Finalmente juntos , se gamando kkkkkkkkkkkk
    Posta mais logooo
    Bjs

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  7. Poooooorrrrraaaa Ta perfeiiiittttooooooooo!!! Esse capítulo Ta sensacional , essa história Ta sensacional <3
    Posta logo , posta mais , não sei se agüento mais só um capítulo por dia kkkkkkkkkkkk
    Bjs

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  8. Finalmente esse beijo aconteceu!
    Dessa vez eu fui pega de surpresa porque não esperava que o beijo acontecesse nesse capítulo, mas acho que eles já não aguentavam esperar mais por esse beijo.
    Ah eles estão namorando *-*
    E o gamar foi tão <3
    Esse capítulo foi completamente perfeito
    Posta logo, Gi!
    Beijos.

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  9. Esse capitulo me deixou DES MAI A DA soooooccoooorrro melhor primeiro e muitos beijos eveeeeeer espero que agora eles deem certo! Posta meu amor! Pq o vício ta grande!

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  10. Gamei nesse capitulo! Postaaaaaaaaa!! Viciante essa história!!

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. MEU DEUS, AMEI ESSE CAPÍTULO!!!
    Desculpa a demora pra comentar mas eu estava sem internet...
    Enfim, não acredito que eles já são um casal e MEU DEUS, estou cada dia mais apaixonada pelo Joseph, meu sonho de consumo....
    Posta logo, beijos :*

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