18.9.14

Capítulo Vinte e Cinco






JOE FRANZIU a testa, a visão borrando enquanto imaginava a cena em sua cabeça. A cena, ao contrário da tela diante de si, era clara como água.
E depois? Será que o sujeito deveria aceitar o risco emocional e apostar tudo, ou deveria continuar a fazer o que os heróis de Joe sempre faziam, e matar o bandido?
Assim como fizera em todas as vezes que se flagrara em uma encruzilhada nessa semana, Joe imaginou o rosto de Demi e se perguntou o que ela faria.
Então piscou algumas vezes, baixou a cabeça e mergulhou de volta na digitação, deixando sua visão se aglutinar em palavras na tela.
COM UM gemido de frustração, Demi jogou o livro contra a parede e se levantou da poltrona para caminhar pelo escritório. Ela deveria entrevistar um escritor por telefone no próximo segmento do “Cantinho da crítica”, porém estava odiando o livro dele. Um suspense que não causava efeito algum nela. Deveria. As emoções eram abundantes. Tão abundantes que pareciam extenuantes, na verdade. O protagonista enfrentava altos e baixos emocionais com velocidade suficiente para deixar o leitor desgastado.
Depois de ler três quartos do livro, ela estava totalmente cansada de emoções. Onde estava a ação, a movimentação, a empolgação? Bastava fazer alguma coisa, pelo amor de Deus, sem a choradeira e a introspecção.
Será que era assim que Joe enxergava a emoção nos livros? Na vida? Quando havia tantas emoções atacando o leitor, ele simplesmente se fechava em autodefesa. Será que Joe fizera o mesmo?
Para uma mulher que sempre buscara os sentimentos nas histórias, foi uma bofetada perceber que, às vezes, o que fazia uma história funcionar para ela poderia ser exatamente o oposto. Será que ela nunca percebera isso?
Ou, ela se perguntou, dando um suspiro, quando se jogou na poltrona, Joe a estava ensinando um jeito completamente novo de enxergar os livros, e a vida?
JOE RELEU sua última cena e estremeceu. Não porque estava uma porcaria. Se fosse isso, tudo bem. Ele poderia consertar a porcaria. Mas aquilo… aquilo o fazia sentir-se nu. Para um sujeito que nunca tinha hesitado em se despir fisicamente, era uma sensação muito bizarra.
Ele se afastou de sua mesa, necessitando se espreguiçar e se movimentar. Precisava de uma distração. O sexo lhe veio à mente, o que automaticamente trouxe Demi aos seus pensamentos. Não que ela houvesse estado longe em algum momento. Ele sentia como se aquela história tivesse sido escrita com ela sentada junto ao seu ombro, reprovando toda vez que ele fugia daquele poço profundo de emoções que ela queria tanto que ele explorasse.
A rigidez do corpo dele o fez olhar para o relógio. Já era meia-noite? Bastava de sexo. Melhor assim; ele precisava de um banho e cama.
Olhou para monitor reluzente, a história gritando para que retornasse. Faria uma pausa para jogar uma água gelada no rosto e comer um sanduíche de presunto.
DEMI ENCARAVA a desgraça que havia escrito. Ela precisava mandar bem na resenha e nas perguntas da entrevista, e aquele lixo evasivo e insosso certamente não garantiria isso. Com um suspiro frustrado, ela apertou a tecla “delete”.
Distração. Talvez, se ela se concentrasse em outra coisa por um tempinho, descobriria um jeito de organizar em palavras sua reação caótica ao livro. Ela abriu a página do curso on-line da faculdade e fez o login. Poderia dar notas aos trabalhos.
Depois de meia hora lendo os trabalhos da turma do primeiro ano sobre a temática característica dos livros de Ernest Hemingway, chegou um e-mail interno da faculdade.
Demi clicou para abri-lo, então resmungou. Nada como um pouco de pressão.
Para: Professora D. D. Lovato
De: Professor Ekco
Para sua informação: o comitê de admissão vai se reunir uma semana antes do planejado. Conforme prometido, apoiarei sua candidatura contanto que você conquiste os objetivos listados. 1) Prove que suas resenhas são um sucesso através do programa de televisão e da enquete on-line. 2) Garanta um acordo com Joseph Jonas para que ele ministre uma palestra na Universidade Rosewood, como parte de sua proposta de plano de curso de literatura moderna. Desejo-lhe o melhor, a meu ver um grande benefício para nós todos nessa nova empreitada.
Garantir uma palestra de Joe? Aquilo não era parte do acordo. Claro, ela não negara quando Ecko sugerira, mas só porque tinha ficado em choque durante o restante da conversa. Sua premissa era esperada, no entanto, mas não, ela sabia, algo ao qual ele poderia obrigá-la a cumprir.
Droga. Ela abriu o site do programa e clicou na enquete. Sim, ela estava vencendo, mas sua segunda resenha horrorosa definitivamente deixara a competição acirrada.
O olhar dela pousou no e-mail outra vez e ela suspirou. Não tinha tempo para aquilo. Tinha prioridades e, nesse momento, arrasar em suas últimas edições do “Cantinho da crítica” era a maior delas. Precisava realizar uma ótima entrevista; seus telespectadores estavam contando com ela para garantir um olhar focado e perspicaz sobre o autor e seus livros.
Ela queria telefonar para Joe. Debater a história com ele, ouvir suas ideias. Ouvir a voz dele. E, talvez, se tivesse sorte, eles pudessem até mesmo brincar de alguns joguinhos sexuais por telefone. Mas ele não estava disponível. Ela havia enviado e-mails, todos sem resposta, em quantidade suficiente para começar a se sentir um pouco carente e desesperada. Demi chegara ao ponto, ela sabia, de dizer dane-se a aposta; ela não se importava em provar mais nada. Só queria ficar com ele. De todos os jeitos possíveis.
Mas primeiro ela precisava escrever a resenha. Já que seus métodos atuais não estavam funcionando e havia tanto em jogo, ela teria de sacar suas maiores armas.
A velha Demi. Geek, sem graça e esquisita, mas o diabo de salto alto quando o assunto era leitura analítica.

Ela seguiu para o banheiro para limpar o rosto, tentando se lembrar se sua calça de moletom vermelha folgada e puída estava suja. Hora de deixar a dra. Lovato retornar uma última vez, pois mais tarde Demi planejava enfiá-la no fundo de um armário e escondê-la para sempre. Afinal de contas – ela sorriu enquanto juntava o cabelo em um nó e prendia com um lápis –, ela havia resolvido ficar com Joseph Jonas.


*****

Capítulo programado amores. Tive que ir pra casa de uma amiga fazer trabalho, mas não podia deixá-las sem nenhum capítulo de novo. Espero que estejam gostando, nos próximos capítulos vai rolar uma tensãozinha haha. Beijos ♥

Um comentário:

  1. Eu acho que o Joe vai descobrir esse "alter ego" da Demi e vai continuar apaixonado hahahahha
    Que medo bobo, mas entendo o que está em jogo...
    Olha to torcendo pra Demi nessa aposta ai ein, quero ver ela e o Joe juntos logo ♥

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