17.8.14

Capítulo Treze






TRINTA MINUTOS, uma ducha e uma aplicação de maquiagem completa depois, Joe a encontrou na cozinha. Hora do show. Demi reuniu a coragem em torno de si como se fosse um escudo e fingiu estar tranquila.
Enquanto quebrava ovos em uma tigela, ele pôs as mãos em seus quadris e lhe deu um beijo com a boca entreaberta na lateral do pescoço. Sua ereção pressionou, insistente e pronta, contra a seda fina do roupão, mas ela se obrigou a não o tocar ou lhe dar a atenção merecida.
– Café da manhã? – perguntou em um tom jovial, que deveria mandá-la para a cadeia por usá-lo assim tão cedo. – Minha receita secreta de panquecas. Aprendi a fazê-las no internato. Na verdade, são minha única pretensão para a fama culinária, mas acho que você vai gostar.
A hesitação dele foi física. Na verdade, ela de fato conseguiu sentir Joe se afastando, repensando seu plano matinal. Então ele deu de ombros, roçando nas costas dela, e se afastou.
– Claro. Sempre estou no clima para comer panquecas. – Ela deu uma olhadela quando ele puxou uma cadeira e se sentou, quase babando quando se deu conta da aparência dele.
Usando apenas uma cueca boxer, o peito que ela explorara tão meticulosamente na noite anterior estava nu e tentador. Os dedos dela coçavam para sentir o espaço em “V” macio de pelos outra vez, para seguir a trilha, descendo até o abdome rijo e para o cós da roupa íntima.
– Também estou no clima para outras coisas – disse ele, num tom rouco. O olhar dela voou para o dele. O azul hipnótico dos olhos de Joe a atraiu, lembrando-a o quanto tinha sido incrível deslizar pelo corpo dele, senti-lo dentro de si, ceder à paixão. Como ela queria muito aceitar o convite sensual, suas palavras saíram mais ásperas do que ela pretendera.
– Panquecas é tudo que teremos no cardápio desta manhã, figurão. Você fez a sua jogada, agora é a minha vez.
Assim que disse aquilo, Demi estremeceu mentalmente. Por que ela simplesmente não lhe entregava a calça, lhe dava um tapinha no traseiro e o mandava embora com um “belo trabalho, garanhão”? Joe semicerrou os olhos. O cálculo frio neles deu arrepios em Demi.
– Sua vez? Como assim?
Indelicada ou não, ela fez jus às próprias palavras. Precisava fazê-lo. Se não o fizesse, perderia a aposta. Ela não era estúpida o suficiente para pensar que ele se apaixonaria por ela, mas pela primeira vez precisava provar para si que era forte o suficiente para controlar um relacionamento. Que, mascarada ou não, era o suficiente para despertar a atenção de um homem como Joseph Jonas.
– Seu argumento é que o sexo ótimo é baseado em luxúria apenas. Você tem de admitir, o sexo entre nós foi ótimo.
Os olhos azuis descongelaram só um pouquinho.
– Eu estava começando a me perguntar se você iria alegar que foi unilateral.
– Sério? – Demi ficou verdadeiramente chocada. Afinal, fatos eram fatos. Ela franziu a testa enquanto virava a última panqueca em um prato e o levava até onde Joe estava sentado, todo amarfanhado em frustração masculina diante da mesinha aconchegante estilo de bistrô.
– Está vendo, isso de fato respalda minha defesa. Fizemos sexo... um sexo ótimo – acrescentou ela rapidamente, quando os olhos dele ficaram gélidos outra vez –, mas, tirando o prazer físico, nós não nos conhecemos.
E é por isso que não vou tomar sua alusão como ofensa.
Demi pegou calmamente manteiga e geleia, sem saber de qual ele gostaria, e colocou tudo na mesa. Então se sentou diante de Joe e cruzou os braços.
– Mas eu não minto. Nem sou ingênua. Duas características claras em minhas resenhas, que afinal deram início a isso tudo. Você vai perceber isso depois que eu provar meu argumento em nossa pequena aposta paralela.
Joe lhe ofereceu um olhar demorado, ainda mais sensual que o de costume, com suas bochechas com barba por fazer e irritação de olhos sonolentos.
– O que nos leva à sua vez de jogar, certo?
– Certo.
– Como você planeja provar seu argumento, então? Vencer a aposta? – A impossibilidade óbvia, para ele, restaurou sua afabilidade de sempre. Ele ofereceu um sorriso a ela e começou a espalhar manteiga e calda sobre suas panquecas.
Demi aguardou até que ele desse a primeira mordida, observando para ver se ele gostava da comida. Seu olhar dizia claramente que sim, o que lhe rendeu uma sensação desconcertante de prazer.
– Para o restante de nossa aventura de um mês, vamos apenas sair – disse ela para ele, esperando que seu tom tenha soado mais implacável do que como um pedido de desculpas. – Não vamos fazer sexo.
A explosão chocada da gargalhada o atingiu com tanta força e tão depressa que Joe quase expeliu migalhas de panqueca pela mesa. Ele precisou tossir, piscando para clarear seus olhos cheios d’água.
– Você está brincando, certo? O sexo entre nós foi incrível, e você acha que, deixando-o de lado, vai vencer a aposta? Ou está apostando em minha morte por frustração sexual para obter uma vitória à revelia?
Demi tinha de estar brincando. Ninguém fugia de um sexo tão bom como aquele. Uma sensação estranha, que ele finalmente identificou como pânico, atingiu Joe no estômago. Ele não estava pronto para dar fim àquilo, não queria abrir mão do sabor dela, de senti-la em seus braços.
Ou de ter seu corpo dentro dela.
Joe sorriu, porém ela balançou a cabeça.
– Meu argumento é que a emoção torna o sexo melhor. Nós já fizemos um sexo ótimo como... como você nos chamaria... conhecidos?
A raiva tomou o lugar do pânico. Joe não gostava daquele termo. Ela fazia soar como se eles mal se conhecessem. O que era uma besteira.
Ele a conhecia, droga. Conhecia o barulho que Demi fazia quando chegava ao clímax. Sabia como era quando o corpo dela o agarrava, ordenhando a última gota de prazer de seu orgasmo. Joe conhecia seu sorriso, sua risada e, graças à observação enquanto ela dormira, sabia como era quando todas suas defesas estavam baixadas.
Além do físico, ele sabia que Demi encararia qualquer desafio que Joe lançasse usando de inteligência e prudência. Que ela provavelmente era mais inteligente que ele, mas tão doce ao expor isso que Joe a admirava, em vez de se ressentir de seu supercérebro. Ele sabia que Demi gostava de música e de chocolate e que, embora certamente fosse discordar, ela necessitava de mimos e de apreço.
Joe não entendeu de onde veio aquele impulso, já que ele raramente escolhia passar algum tempo com as mulheres fora da cama, mas queria ser aquele a mimar e dar atenção a ela. Trazer-lhe flores sem motivo, senão para vê-la sorrir. Levá-la à livraria e observar seu contentamento, levá-la para uma peça teatral e, então, ouvi-la analisar o espetáculo depois. Preferencialmente na cama.
Ele simplesmente queria ficar com ela.
E aquela ideia o assustou ao extremo.
As panquecas começaram a revirar de forma nauseante em seu estômago. Joe era propositadamente um solitário. Porque as pessoas o decepcionavam, porque não podia depender delas. Especialmente das mulheres.
Como se tivesse levado um balde de água fria, seu cinismo cuidadosamente afiado acordou. Então Demi não era tão diferente assim de Angelina, afinal. Atraí-lo, prendê-lo e então começar o jogo. Sua “ex” tinha usado o sexo para conseguir uma aliança de casamento. Diabos, ela o utilizava para conseguir absolutamente tudo que queria. Só que chamava de amor.
Joe deveria estar agradecendo a Demi por puxar o freio, em vez de ficar enchendo o saco. Afinal, uma noite apenas com ela e ele começara a pensar coisas malucas, todas pegajosas e emotivas. Aquela pausa era perfeita. Ele nunca tinha passado algum tempo fora da cama com uma mulher sem ficar irritado com suas exigências. Dessa vez não seria diferente.
– Tudo bem, então estamos só saindo – concordou ele. Com o estômago restabelecido, ele pegou o último pedaço de panqueca. – Preciso ir para Nova York dentro de alguns dias, então que tal nos vermos na quarta-feira à noite? Eu irei buscá-la às 20h, e vamos para um show.
O olhar de choque dela diante da rendição fácil dele foi impagável. Melhor ainda, revigorou seu apetite. Joe gesticulou para seu prato vazio e lançou seu olhar faminto, digno de pena.
– Enquanto isso, posso comer mais uma leva de panquecas? São as melhores que já comi.
O mesmo valia para a mocinha que as havia preparado. Um fato que ele percebeu que não teria problema nenhum em ignorar... depois de se servir mais uma vez.


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Poxa, mais de três dias sem postar e só um comentário? Se vocês não estiverem gostando, me avisem que eu paro de postar e começo outra.

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