31.7.14

Capítulo Um






SEU ARFAR quente, desesperado, ecoava pelo corredor longo e escuro. O terror aglutinava em um redemoinho sombrio de paixão enquanto a boca dele deslizava pelo côncavo sedoso da barriga dela. Os dedos dele lhe agarraram as nádegas, erguendo-a para o seu prazer, totalmente sob seu controle. Ele a dominava completamente. Um calor úmido empoçava entre as pernas dela, fazendo-a se contorcer em uma súplica silenciosa. Os dedos dele aumentaram a pressão, mantendo-a como prisioneira, exigindo que ela aguardasse seu comando.
Demetria Lovato bufou quando as palavras ficaram borradas na página. Deus, quem dera ser aquela mulher! Ela já havia lido a mesma cena três vezes desde que adquirira o último livro de suspense erótico de Joseph Jonas, e continuava fascinada. Fascinada, diabos! Havia tido dois orgasmos graças àquele único capítulo. Três, se considerasse a lembrança evocada por ele durante o banho.
Ela trilhou um dedo sobre o rosto estampado na contracapa. Os olhos do autor, vívidos e penetrantes, prometiam uma habilidade de fazer jus ao calor entre as páginas. Ela se perguntava quanto do apelo sexual era causado pelas palavras em si, e quanto era por saber que haviam sido escritas pelo sujeito com o rosto mais sensual que ela já vira embelezando a contracapa de um livro.
– Professora Lovato?
Engasgando, Demi atirou o livro em sua bolsa de lona como se estivesse em chamas. Com as bochechas queimando, estampou um olhar de questionamento ingênuo. Esperava que o rápido esvoaçar de cílios transmitisse inocência, e que também ajudasse a resfriar suas bochechas.
– Sr. Sims, olá – saudou Demi, o tom leve e firme, adequado para uma professora da Universidade Rosewood.
As mulheres como as heroínas dos livros de Joseph Jonas, quando flagradas fazendo sexo em locais públicos, davam um sorriso malicioso de fazer inveja pela audácia delas. E Demi? Ela nem mesmo conseguia ler os romances sensuais em público sem corar e ficar preocupada em ser delatada por suas escolhas literárias imprudentes. Afinal de contas, a leitura deveria ser uma atividade educativa, nunca um entretenimento de mau gosto.
– Eu só queria dizer o quanto a palestra de hoje foi proveitosa. A evolução dos arquétipos dos personagens me fascina.
O desconforto se dissipou quando Demi voltou para o modo professora. Os dois entraram em uma discussão sobre o assunto, Demi ficando cada vez mais animada e empolgada conforme debatiam. Ela adorava quando um aluno absorvia seus conceitos, e adorava ainda mais ver a centelha de empolgação no olhar dele. Demi não era uma professora fácil em nenhum sentido. Ela exigia muito de seus estudantes por meio de um programa de estudos dinâmico e desafiador. Mas se orgulhava por deter a menor taxa de reprovação em relação a qualquer outro professor do Departamento de Literatura.
E o sucesso só ajudaria em sua tentativa de se tornar diretora assistente do departamento. Uma promoção e tanto, que a deixaria em posição de assumir a direção geral da seção dentro dos próximos dez anos. Exatamente como havia planejado. E talvez, apenas talvez, aquilo lhe desse um bônus: atrair de fato a atenção de seu pai.
– Com licença – disse alguém com uma voz rouca.
Demi e Sims deram passagem a uma morena linda. Era maravilhosa, desde seu cabelo perfeitamente liso até os saltos altos pretos lustrosos. Até mesmo seu terninho vermelho gritava poder. Ela era a heroína perfeita de Joseph Jonas. Sensual, ousada e confiante.
Ambos observaram a mulher passar, Demi invejando seu senso de presença e Sims obviamente admirando o traseiro dela. Enquanto ele recuperava a compostura, Demi olhou para seu relógio de pulso.
Droga. Atrasada outra vez. Despedindo-se brevemente de seu aluno, ela se apressou pelo corredor em direção ao gabinete do reitor.
Entrou voando na recepção. A loura baixinha à mesa parecia uma bonequinha. Os cachinhos louros, os olhos azuis imensos e o rosto redondo e sardento escondiam um raciocínio mordaz e um senso de humor malicioso. Era a melhor amiga de Demi, e as duas tinham a mesma obsessão por Johnny Depp, rock da década de 1980 e romances, um assunto de caráter confidencial ali na faculdade. A Universidade Rosewood era um ambiente austero e formado por mentes fechadas. Só no ano anterior Demi finalmente tinha confiado a Miley Cyrus seu segredo mais profundo e sombrio. Ela não apenas amava ler ficção popular, como, secretamente, também ganhava uma renda considerável escrevendo resenhas de tais obras para diversas revistas e jornais. Demi ouvira rumores de que, dois anos antes, a faculdade demitira uma professora de história da arte quando descobrira que ela trabalhara como modelo. O fato de ela ter posado usando trajes históricos em uma revista não pareceu fazer qualquer diferença para o reitor. Demi só podia presumir que ele e seus curadores consideraram o ato frívolo e zombeteiro.
Então ela mantinha as resenhas sob total sigilo e usava seu nome do meio, Devonne. Seria louca se não o fizesse.
– Cheguei muito atrasada? Meu pai ainda está aqui? – perguntou ela, tomando fôlego.
– Ele ainda está aqui – respondeu Miley lentamente.
– O que houve? – perguntou Demi, ainda ofegando um pouco.
– Eu só achei que você gostaria de saber, bem... – Miley hesitou, então suspirou. – Você notou a morena que saiu daqui há alguns minutos?
– Carregava uma pasta para laptop enorme, com bastante espaço para livros e papéis. – Ela olhou para a própria bolsa de lona surrada e desgastada. Odiava fazer compras, mas cobiçava bolsas práticas, especialmente as de couro. Talvez, depois que conseguisse a promoção, ela se presenteasse com uma daquelas.
– Ela estava aqui por causa do cargo no seu departamento.
Franzindo a testa, confusa, Demi ficou encarando Miley.
– Meu cargo?
Ela não havia nem mesmo cogitado que haveria concorrência. Inclinou a cabeça em um questionamento silencioso, e Miley sacudiu um papel diante dela. Demi deu uma olhada no currículo da mulher.
– É bom, mas não tanto quanto o meu.
Miley fez uma careta.
– Eu ouvi dizer que o professor Belkin quer alguém que tenha o poder de despertar atenção – falou a garota, se referindo ao diretor do Departamento de Literatura. – A frequência no departamento anda baixa, e ele está levando para o lado pessoal. Aparentemente, ele acha que uma assistente mais atraente vai ajudar a impulsionar os números.
– Um programa de estudos dinâmico e uma forte reputação no ensino não são o suficiente?
Ambas sabiam que era uma pergunta retórica. Enquanto Demi era do tipo que escondia um romance policial atrás de seu livro didático, Belkin era do tipo que escondia uma revista masculina atrás do seu. O homem era completamente focado em aparência: quanto mais sensual, melhor.
E, embora o cargo fosse concedido por um comitê, ele o chefiava, o que significava que detinha grande influência.
– Eu soube que Belkin disse ao reitor que desejava alguém com bastante carisma e boa aparência, que fosse capaz não só de lidar com o lado acadêmico da função, mas também com a parte de relações públicas que ele está planejando inserir – disse Miley com o olhar direcionado para o tampo de sua mesa. Ela obviamente não era capaz de encarar a amiga.
Demi cerrou o maxilar para evitar gritar de frustração. Perder a cabeça nunca ajudava, mas imaginar o quanto seria bom atirar sua bolsa esfarrapada do outro lado da sala certamente ajudava.
Miley suspirou profundamente e lhe lançou um olhar demorado e cuidadoso, provavelmente para se certificar de que Demi não teria um ataque. Tranquilizada, ela bateu na revista sobre a mesa, diante de si.
– Talvez, se você cogitasse uma transformação... – sugeriu ela de maneira hesitante, e não era a primeira vez. Demi já estava balançando a cabeça antes mesmo de a amiga prosseguir: – Você sabe, algo para mudar o visual, então talvez as pessoas lhe deem a atenção que você merece. – Demi suspirou. Palavras da verdadeira mulherzinha superfeminina. Miley nunca saía de casa sem batom; como poderia ser considerada imparcial? Demi imaginava que o fato de ter crescido sem a presença da mãe era o fator responsável por ela nunca ter sido apresentada ao universo feminino.
– Por que me dar o trabalho? Sou quem sou. Por acaso o rímel e o sutiã com enchimento vão me transformar em outra pessoa? – Tal ideia a fez estremecer. Maquiagem, roupas chiques, aquilo a desorientava.
– Não, mas vão fazer com que você seja notada. – Miley sacudiu a revista. Risqué. Demi revirou os olhos. Que nome. Ela leu a chamada principal.
“Você é tão autoconfiante quanto aparenta.” Até parece.
– Quem precisa desse tipo de atenção? – resmungou Demi. Ela puxou a bainha desgastada de seu casaquinho de lã e franziu o cenho. – E aquele papo todo sobre “beleza interior ser mais importante que beleza exterior”?
– É um mito reconfortante, tipo o Papai Noel – brincou Miley.
Demi bufou.
– Você é bonita debaixo dessa lã. Você definitivamente tem cérebro, e é uma pessoa legal – ponderou Miley. – Só precisa aprender a tirar o máximo proveito de tudo isso. Aceite meu conselho, leia esta revista. Vai colocá-la no caminho da satisfação. Melhor ainda, acho até que você vai conseguir tirar o atraso.
Demi bufou novamente.
– Ao contrário de algumas pessoas, eu não acho que sexo resolva tudo. – Bem, ela estava assustadoramente viciada nos livros de certo autor. Mas aquilo não tinha nada a ver com a vida real. Eles só serviam para criar excitação. Tinham o mesmo nível de realismo do desenho do Bob Esponja, e até menos profundidade emocional.
– Como você pode saber? Qual foi a última vez que fez sexo?
Quando Demi abriu a boca para retrucar, Miley balançou a cabeça.
– Com uma pessoa de verdade, que realmente estivesse no quarto com você.
Droga. Ela calou a boca.
– Qual é a vantagem de mais um fiasco em uma loja de roupas? – perguntou, em vez disso. Ela havia tentado mudar uma vez, durante a adolescência, e descobrira que era preferível ser invisível do que virar alvo de chacota.
– Não, você precisa de algo muito maior. – Miley se inclinou para enfiar a revista nas mãos da amiga.
Demi olhou para a capa, e então para a página marcada. Risqué?
– Um concurso de transformação de visual? Você está brincando, certo?
– De jeito nenhum. É um negócio de louco. Transformação completa. Cabelo, maquiagem, guarda-roupa completamente novo. Também não é nenhum negócio brega. É tudo personalizado, criado para você. Eles até mesmo ensinam as vencedoras a manterem o novo visual.
– Por que, diabos, eu iria querer fazer um negócio desses?
– É sua chance. Se ganhar, vai ver a diferença que isso vai fazer.
Demi jogou a revista de volta à mesa, revirando os olhos.
– Qual é o objetivo? Dificilmente acho que algo tão superficial como sombra e laquê vão resolver meus problemas.
Miley fez uma careta, então deu de ombros. Demi se sentia mal por magoar os sentimentos da amiga. Antes que pudesse pedir desculpas, Miley enfiou a revista em sua gaveta. O despertador sobre a mesa tocou, com um lembrete.
– Ele está saindo em dez minutos. Se quiser vê-lo, é melhor entrar agora – avisou Miley.
Franzindo a testa, Demi assentiu para agradecer, pegou sua bolsa e aprumou os ombros.
Ela caminhou a passos largos pelas portas pesadas, empinou o queixo e respirou fundo. Originalmente, pretendia insinuar que ficaria grata pelo apoio dele à sua candidatura. Agora teria de ser mais direta. Pela primeira vez, precisaria se impor.
É claro, ajudaria se o pai realmente olhasse para ela. Demi pigarreou, mas mesmo assim ele não tirou os olhos dos papéis que estava assinando.
– Preciso de sua ajuda – começou Demi baixinho.
Ele ergueu um dedo, gesticulando para que ela esperasse.
Preferencialmente em silêncio.
Ela agarrou a alça da bolsa com tanta força que a lona lhe feriu os dedos. Desejava ter coragem de atirá-la do outro lado da sala, mas anos de sermões dizendo que perder o controle nunca valia a pena lampejaram por sua cabeça. Paciência, paciência. Talvez, se recitasse o mantra com frequência suficiente, pararia de imaginar o quanto seria bom se deixar levar e dizer a ele exatamente como se sentia. Entretanto, assim como na maioria dos casos não acadêmicos, imaginar era o único modo que ela possuía de experimentar tal prazer. A mãe sempre fora capaz de acalmar seu gênio forte, mas, depois que ela se foi, Demi ficou sozinha. Uma vez, só uma vez, ela deixara seu gênio explodir diante do pai. Estava com 10 anos à época. Como consequência, ele a enviara para um internato.
Demi olhou para a cabeça calva dele. Tufos de cabelo ruivo como penugem de galinha. E não é que ela não apenas herdara a mente brilhante dele, mas também o corpo desengonçado e esguio, além do cabelo horroroso? Enquanto ele soava erudito e autoritário, Demi parecia apenas uma Olívia Palito com uma cabeleira cor de cenoura. Só que, a julgar pelo azar dela com os homens, em vez de lutar por ela, provavelmente Popeye e Brutus fugiriam juntos.
– Que tipo de ajuda? – Patrick Lovato, reitor da Universidade Rosewood e único parente vivo de Demi, perguntou em um tom distraído, quando finalmente a vislumbrou ali.
– Apoio – informou a ele. – Você sabe que me candidatei para o cargo de assistente. Aparentemente, o professor Belkin está mudando os requisitos para a função.
– Ele está meramente expandindo a descrição do cargo – disse o reitor Lovato, modo como preferia que todos se dirigissem a ele, inclusive sua única filha. Ele ainda não havia se dado o trabalho de olhar direito para ela, então Demi não se deu o trabalho de esconder sua expressão raivosa. – Como diretor do Departamento de Literatura, o professor Belkin acha que precisamos de uma pessoa forte e dinâmica no cargo.
Demi foi tomada pela frustração. Para todo o corpo docente, seu pai incluído, ela realmente era invisível. Demi empinou o queixo e fez o impensável: questionou as razões dele.
– Isso é porque ela é muito atraente? – perguntou ela.
– O qu...? – O reitor Lovato exibiu um rosto franzido, as sobrancelhas unidas como um par de lagartas de um tom vermelho vivo. Finalmente, uma reação: – Quem? A professora Tate? Como a aparência dela pode influenciar em alguma coisa? Quem se importa com todo aquele empetecamento?
E ele falava seriamente. Como pai solteiro, Patrick Lovato havia criado Demi para valorizar a inteligência. O intelecto, julgava ele, era muito mais significativo do que algo tão efêmero e nebuloso quanto a definição vigente de beleza por parte da sociedade.
Claro, como a maioria da sociedade não tinha sido criada sob o mesmo padrão, aquilo deixava Demi sob leve desvantagem. Ela cerrou os dentes por causa da frustração. E agora parecia que o intelecto também não era suficiente.
– A professora Tate era aquela mulher que estava aqui agora, certo? –
Demi suspirou profundamente e, apesar do aperto no estômago, o confrontou: – Minhas qualificações, isso sem mencionar minha experiência, são mais fortes.
O pai suspirou, e o suspiro demorado e marcante a informava de que ela estava perdendo seu precioso tempo. Ele dera o mesmo tipo de suspiro quando ela quisera aprender a andar de bicicleta, pedira permissão para frequentar as atividades extracurriculares da escola ou desejara um bichinho de estimação. Aquele suspiro era tão eficiente que Demi ainda não sabia andar de bicicleta e possuía as habilidades sociais de uma garota espinhenta de 12 anos que fora privada do amor de um cãozinho.
– Demi, você está ignorando o ponto principal. Precisamos de sangue novo no Departamento de Literatura. De ideias novas e um programa de aulas forte.
Ela só ficou encarando. Ele, obviamente, não ia apoiar a proposta dela. Mas Demi precisava ouvir aquilo claramente.
– Você vai apoiar minha candidatura? – perguntou ela, com um aperto na garganta.
– Conforme falei, precisamos de sangue novo. Pessoas brilhantes e enérgicas que tragam empolgação ao conteúdo programático. Você é uma de nossas professoras mais brilhantes, Demi. Uma enorme vantagem para o departamento. – Ele remexeu em alguns papéis sobre sua mesa, então encarou os olhos da filha. Ele ostentava aquele olhar irritado no estilo “é para o seu bem”. O estômago dela deu uma cambalhota. – Na verdade, por recomendação do professor Belkin, no semestre que vem vamos experimentar dar algumas aulas pela internet. Gostaríamos que você fosse responsável por elas.
Ele lhe entregou o plano de curso para o semestre seguinte. Ela não possuía nenhuma aula agendada que não fosse virtual.
Demi sentiu o ar travado em seus pulmões e afundou em uma cadeira. Lágrimas, as quais mal tinham permissão para chegar à superfície, inundaram seus olhos. Ela levou os poucos segundos necessários para retomar o controle, sabendo que o pai preferiria que ela adiasse sua resposta em vez de demonstrar qualquer forma de emoção que ele tivesse de validar.
– Se sou tão benéfica assim, por que acabei de ser rebaixada? – Não que fosse sua intenção dizer aquilo, mas ela descobriu que não se arrependia de sua explosão. Afinal, talvez, se falasse em alto e bom som ao menos uma vez, ele a escutasse.
Antes que o pai pudesse verbalizar a irritação evidente em seu rosto, Demi se pôs de pé para passear pela sala, segurando com força a papelada.
– Ah, claro, você pode alegar que não é um rebaixamento oficial. Mas como, diabos, você chamaria isto, quando todas as minhas aulas de repente são via internet?
Se não fosse por sua inteligência, ninguém jamais a notaria. E agora tinham encontrado um jeito de absorver seu cérebro sem necessidade de haver sua presença física de fato. Ela resistiu à urgência de verificar se estava cheirando mal. Aparentemente, essa era a premissa de sua vida:
Demetria Lovato, a Mulher Invisível.
Ela inspirou de maneira trêmula e passou uma das mãos pelo cabelo. Os dedos se emaranharam no nó que tinha se esquecido que havia feito utilizando um lápis. Encolhendo o corpo, Demi desfez o nó e jogou o lápis, juntamente a alguns fios ruivos que arrancara também, sobre a mesa do pai.
Ele olhou para o lápis, e então para ela. Daí suspirou.
– Não tenho tempo para discutir isso, Demi. Tenho uma reunião daqui a alguns minutos e gostaria de revisar minhas anotações. Por favor – fez sinal em direção à porta –, vamos conversar sobre isso outra hora.
Ela cerrou os punhos junto às laterais do corpo, observando-o retornar à sua papelada. E, simples assim, ele a dispensou. Como sempre. Demi abriu a boca para dizer exatamente onde ele podia enfiar a reunião e exigir que enfrentasse seus questionamentos e a escutasse de verdade. Aquelas malditas lágrimas surgiram outra vez, agora por frustração pelo fato de o pai não se dispor a compreendê-la. Valorizá-la. Ao menos uma vez. No entanto, ela piscou para conter as lágrimas, e as palavras. Que diferença faria?
Ele nunca havia prestado atenção nela. Suas conquistas intelectuais eram esperadas, jamais comemoradas. E, para Patrick Lovato, o intelecto era a única coisa que importava.
Com a visão agora borrada de raiva, Demi agarrou sua bolsa e irrompeu gabinete afora.
Ela captou um lampejo da própria imagem na janela de vidro laminado. Esguia, magrela e... sem graça. Era um desastre desleixado. A lã pesada de seu terninho largo estava esgarçada, as ombreiras, caídas. Só porque a família Lovato não valorizava os apelos físicos não significava que o restante do mundo não o fazia. Franzindo a testa de forma pensativa, puxou o cós do casaco para ajustá-lo melhor. Tirou as mechas de cabelo do rosto, enfiando-as atrás das orelhas. Os ombros estavam caídos. Ainda um desastre. Definitivamente, não era o que Belkin tinha em mente para uma assistente visualmente mais interessante.
Demi cerrou os dentes. O que deveria fazer, então? Desistir? Lecionar em uma escola diferente? Resignar-se à invisibilidade?
Diabos, não.
Ela saiu pisando duro pelo corredor e se plantou em frente à mesa de Miley.
– Transformação, hein? – perguntou ela.
Os olhos azuis de Miley se arregalaram tanto que ela ficou parecendo uma boneca Barbie.
– Sério? – A amiga pegou a revista de forma atabalhoada, rasgando as páginas em meio à pressa para colocá-la nas mãos de Demi.
A imagem reluzente prometendo uma mudança sensual e sofisticada fez Demi parar por um instante. Então ela empinou o queixo. Era hora de parar de permitir que seu pai decidisse o que deveria ser valorizado ou não. Afinal de contas, provavelmente aquele era o único jeito de ela aprender a se valorizar. A avaliação dele definitivamente não era a favor dela.
– Em vez de uma promoção bem remunerada, fui convidada a dar aulas no conforto da minha própria casa – disse Demi, com escárnio.
– Hein?!
– Vou assumir o programa de aulas via internet.
– Eu não sabia que tínhamos um programa de aulas via internet.
– Agora temos. E é todo meu. Melhor ainda para me manter invisível.
Demi sabia que tinha soado amarga, mas não pôde evitar. Ela estava amarga. E furiosa. E, ainda que não quisesse admitir, só um pouquinho desesperada. Afinal, sua carreira a definia, e tal definição tinha acabado de dar uma guinada para pior.
Ela olhou para a revista outra vez. Risqué. Aquilo não tinha nada a ver com ela. Quais as chances de vencer? Realmente iria ajudar? Belkin desejava apelo visual e carisma. Algumas pinceladas de rímel e de blush não lhe dariam isso.
– Cheguei a comentar que o comitê de admissão não vai sequer olhar os currículos até o semestre que vem? – perguntou Miley. – Embora Belkin tenha feito sua escolha, a decisão ainda precisa passar pelo restante da banca.
Demi comprimiu os lábios. Aquilo lhe daria seis meses. Ela pensou no assunto por três segundos inteiros. Mudança? Ou invisibilidade?
Resumindo… A invisibilidade era uma droga.
– Estou dentro – declarou ela, ignorando a advertência que vociferava em sua cabeça, berrando que não compensava tomar decisões em momentos de raiva. – Como faço para me tornar visível?


*****


Essa fic é muito perfeita, eu amei adaptá-la. Ela é fofa e tem hot haha. Espero que vocês gostem tanto quanto eu, amanhã tem mais, beijos.

2 comentários:

  1. Boa tarde Gi! Adorei o primeiro cap!! Estou ansiosa pelo próximo! Brigada por postar! Bju!!

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  2. Boa noite De. Que bom que gostou, fico feliz. Já postei o 2º. Espero que você goste, essa fic é muito fofa. Beijos.

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